A trombectomia mecânica passará a ser disponibilizada até o final do ano na rede pública de saúde para pacientes diagnosticados com o AVC Isquêmico.
Em participação no Global Stroke Alliance, evento realizado em São Paulo com especialistas brasileiros e internacionais para discutir e avaliar as melhores evidências para implementação de programas de AVC de prevenção, tratamento e reabilitação, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga anunciou que a Trombectomia Mecânica (TM), procedimento minimamente invasivo para o tratamento do AVC Isquêmico (AVCI), passa a ser disponibilizado na rede pública de saúde até o final do ano.
Com o recuo da pandemia, o AVC voltou a ser uma das principais causas de morte no Brasil, assim como o infarto. De acordo com o Ministério da Saúde, são registrados anualmente mais de 400 mil casos da doença e 100 mil óbitos. O AVC é uma alteração súbita do fluxo sanguíneo cerebral que pode ser tanto isquêmico, quando há falta sangue em uma região do cérebro por causa de uma obstrução, ou hemorrágico, quando um vaso sanguíneo é rompido.
A Trombectomia Mecânica já foi aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias no SUS (CONITEC) em dezembro de 2021, mas ainda não foi disponibilizada pelo SUS. A técnica traz resultados superiores ao tratamento convencional com uso de trombolíticos, a única opção disponível na rede pública de saúde. Diferentemente desse tipo de medicação com uma janela terapêutica restrita, sendo eficaz até 4,5 horas depois dos principais sintomas da doença, a TM é utilizada com eficácia até 24 horas após os sintomas da doença, segundo estudo Dawn, coordenado pelo Dr. Raul Nogueira, neurologista brasileiro e chefe do Serviço de AVC da Universidade de Pittsburg, onde foram avaliados 206 pacientes. Trata-se de uma excelente notícia diante de um dado assustador: apenas 30% dos pacientes procuram as instituições de saúde no período de até 8h após o início dos sintomas do AVC.
“A cada minuto que passa são 2 milhões de neurônios que morrem. É por isso que é importante correr contra o tempo. Quanto mais rápido o diagnóstico e o tratamento, menores são as chances de sequelas, sendo que o AVC também é uma das doenças mais debilitantes do mundo”, esclarece a Dra. Sheila Martins, presidente da World Stroke Organization e da rede Brasil AVC.
Já aprovada nos Estados Unidos, países da Europa, Canadá e Austrália, além de chancelada por guidelines internacionais e sociedades médicas da área, a trombectomia mecânica teve eficácia e custo-benefício analisados por nove estudos clínicos. A técnica, no entanto, não havia tido até então a sua viabilidade de implementação evidenciada em um país em desenvolvimento.
Para atender essa necessidade, surgiu o Resilient, estudo colaborativo da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, com financiamento do Ministério da Saúde, realizado em 12 hospitais públicos do país, e com 221 pacientes. “O nosso objetivo era atestar a redução do grau de incapacidade (sequelas) e o custo-efetividade de tratamentos para retirada de coágulos do cérebro em quadros graves de AVC”, conta a Dra. Sheila, líder do projeto junto com o Dr. Raul Nogueira.
“Vale ressaltar que os estudos Dawn e Resilient são complementares e juntos apontam os benefícios da trombectomia mecânica. O procedimento é seguro e eficaz e um grande avanço no tratamento dos pacientes de AVCi”, complementa a neurologista.
A Trombectomia Mecânica consiste na desobstrução da artéria cerebral realizada por um cateter que leva um dispositivo endovascular, um stent, para remover o coágulo do vaso sanguíneo do cérebro. Atualmente, é a opção mais eficaz para tratar casos de Acidente Vascular Cerebral isquêmico. Com o procedimento, a taxa de recanalização na oclusão de grandes vasos chega a 77% (NOGUEIRA, 2018, WHITELEY, 2017), significativamente mais eficiente que o tratamento convencional de trombólise endovenosa, com 11% (TSIVGOULIS, 2018).
A TM também proporciona melhor qualidade de vida ao paciente, aumentando a sua capacidade funcional (cognitiva e motora) e dando maior independência no pós-AVC. Estudos apontam ainda que 46% dos pacientes que foram submetidos a essa nova técnica se mostraram independentes após três meses de tratamento, contra apenas 26,5% do grupo que recebeu a trombólise endovenosa (GOYAL, 2016). Em suma, a trombectomia mecânica reduz as taxas de mortalidade, o tempo de internação e dá mais chances para a boa recuperação no pós-AVC.
Sobre o AVC
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) ocorre quando há uma alteração na circulação sanguínea do cérebro. Ele pode ser isquêmico — quando um vaso sanguíneo no cérebro fica bloqueado devido a um coágulo ou trombo — que é o tipo mais comum, correspondendo a 85% dos casos, ou o hemorrágico — quando a artéria se rompe e o sangue extravasa.
De todos os acidentes vasculares cerebrais que ocorrem no mundo, 90% estão ligados a fatores de risco, dos quais é possível evitar: hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes, arritmias cardíacas, sedentarismo, obesidade, ingestão excessiva de gordura, álcool e drogas, tabagismo e depressão/ansiedade.
Sintomas mais comuns: perda da força muscular ou formigamento, nos braços ou pernas, principalmente de um lado do corpo, assimetria facial, dificuldade de fala, dificuldade da visão, além de fortes dores de cabeça, ligue imediatamente para o SAMU 192.
O total de óbitos por acidente vascular cerebral no Brasil foi de 101.965, em 2019; 102.812, em 2020; e 84.426, de janeiro a 27 de outubro de 2021. Os idosos continuam a ser o grupo com maior prevalência.
Além dos óbitos causados pelo AVC, cerca de 50% dos sobreviventes passam a ter sequelas, que levam à dependência parcial ou total, e até 30% desenvolvem algum tipo de demência nos meses seguintes.
ASCOM