Por Natasha de Caiado Castro*, CEO da Wish International
A pandemia deixou 20% do planeta – 1,6 bilhões de jovens em idade escolar – olhando obrigatoriamente para seus professores através de uma tela. Em um universo em que o entretenimento é oferecido pelo storytelling de Hollywood e totalmente “on demand” e onde games transportam a universos paralelos por avatares e XR (Exponential Reality), os professores, que já tinham dificuldade de retenção da atenção em uma sala de aula, do dia para a noite, sem preparo, sem recursos e no susto foram levados a brigar pela atenção e foco da sua audiência. Netflix, games, mídias sociais ou aulas de Física, Química ou Matemática?
A CES (Consumer Electronics Show), maior feira de tecnologia do mundo, depois de 54 anos de existência, teve em 2021 sua primeira edição digital e, neste ano, trouxe várias questões e soluções que mostram um “blue ocean” para investidores e empreendedores em busca de oportunidades criadas pela pandemia.
Estudos apresentados por Michael Mae, um dos dinossauros fundadores do Vale do Silício – região onde a Wish International possui um de seus quatro escritórios – mostram que a indústria de ensino a distância movimentava 500 mil dólares em 1990. Antes da pandemia, este número já estava em 207 milhões e a projeção é de que o segmento irá atingir 404 milhões de dólares até 2030.
Atualmente, em todo mundo, existem 32 unicórnios de educação (empresas que valem mais de 1 bilhão de dólares) – sendo 14 nos Estados Unidos, 13 na China e cinco no restante do mundo. Em 2020, a indústria de educação movimentou 7 trilhões de dólares e projeta-se aumentar mais 2 trilhões até 2024 – sendo 1 trilhão para ensino digital.
E de onde vêm esses números?
A melhoria da qualidade de vida aumentou em pelo menos 30 anos a expectativa de vida, certo? Quando eu nasci, um “velho” de 45 anos precisava de segurança no trabalho e já estava se preparando para aposentadoria. Hoje começamos a buscar o platô nessa idade e isso quando não mudamos totalmente de profissão, certo?
Antes, uma criança entre 0 a 5 anos, brincava, de 5 a 25, aprendia, de 25 a 65, trabalhava e, aos 65 se aposentava. Hoje, a previsão é que a obtenção de conhecimento inicie já nas primeiras fases e perdure para sempre, com expectativa de vida muito maior. As salas de aula de Stanford estão lotadas de pessoas com mais de 80 anos. Eu, que também sou uma estudante da instituição, me sento no fundo das classes para me divertir contando as cabeças brancas x cabeças não brancas. Frequentemente as brancas estão em maioria, o que transforma em exponencial o tamanho do público potencial.
Catlin Gutekunst, Diretora da Creativity Ink, também do Vale do Silício, empresa de tecnologia de voz que tem Siri e Alexa como alguns clientes, levanta algumas tendências: serão 8,4 bilhões de devices respondendo a controle de voz até 2024 e esse crescimento é justificado, pois a tecnologia diminui a fricção. O estudante pergunta para seu telefone que horas a biblioteca fecha ao invés de pegar o laptop, abrir a página da escola, buscar biblioteca, ler um monte de textos até chegar à informação de horário de funcionamento.
As novas tecnologias também ensinam administração do tempo com lembretes do que precisa ser entregue, quando e como. Inteligência virtual permite que os sistemas de buscas de informações sejam mais eficientes, trazendo dados exatos e dando independência ao estudante. Ele se transforma em pseudo auto didata e, o professor, em curador de conteúdo. Uma espécie de “guarda de trânsito” nos canais de internet, também tendo que se reinventar e ressignificar o papel do mestre.
Outras ferramentas são a holografia que traz a narrativa para dentro da casa do aluno, o gaming que, aliado ao conteúdo, transforma o ensino em invisível – aprende-se brincando, uma super ferramenta de engajamento e, para professores e administradores, formas seguras de autenticação vem do reconhecimento por voz e IP combinados.
Algumas megatendências também vistas com a digitalização
1- O curriculum deixa de ser clássico para modular. Cada aluno vai se formar um profissional diferente do outro, dependendo de seu interesse nos assuntos de interesse. Aulas de gastronomia ou tricô, administração de pessoas ou finanças, machine learning e arqueologia estarão à disposição na rede. O ensino massificado desaparece e o curriculum invisível toma seu lugar.
2- Mudança do perfil do professor – para show man a especialista em efeitos especiais, os professores precisam estar atentos à mudança: agora o aluno é um consumidor e o papel do docente é vencer as barreiras Além disso, em breve os professores não precisarão falar inglês ou ser de determinado país, pois a tradução simultânea será algo trivial.
3- XR veio para ficar – Criar códigos é como falar um novo idioma. Se em 2025 o mundo terá mais chineses falando inglês do que nativos, será preciso saber programar uma máquina em um mundo em que as pessoas já nascem digitais.
4- Os controles de voz se transformam em um dos canais, uma das interfaces quebrando fricção e conectado com jovens digitalizados e multitasks.
5- Conhecimento é a moeda corrente, quanto mais se pesquisa e se aprofunda, mais a pessoa terá penetração e influencia na sociedade na qual está inserida. Não há mais perfil definido, profissionais não se encaixam nas empresas, passam a compor para mudar.
6- O perfil do aluno muda de interesse, forma de absorção de dados, estímulo para retenção e dados demográficos. Todos somos alunos em potencial.
E 2021 vai se revelando, mostrando as novas oportunidades, novas demandas e novas formas de seguir a banda.
Sobre a autora
Natasha de Caiado Castro é fundadora e CEO da Wish International, especialista em inteligência de mercado, Content Wizard e Investor. É também Board Member da United Nations e do Woman Silicon Valley Chapter.
Matéria: Fernanda Ribeiro/ Digital Trix