Por Alexandre Ziomkowski – urologista
Embora as campanhas de conscientização sobre a importância dos preservativos tenham perdido espaços e intensidade nos últimos anos, o uso da camisinha em todas as relações sexuais antes, durante e depois do Carnaval continua sendo a melhor forma de prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), além de também evitar a gravidez indesejada. HIV/Aids, HPV, gonorreia, herpes genital, hepatite B ou C e sífilis – cuja ocorrência só cresce no Brasil, acompanhando uma tendência mundial – são exemplos de ISTs. Como a ocorrência de sexo casual durante a Folia de Momo não é incomum, especialistas alertam para os riscos das relações sexuais desprotegidas nesse período.
A camisinha oferece uma barreira eficaz para evitar o contato com bactérias e vírus transmissores das mais diversas infecções sexualmente transmissíveis. Segundo o urologista Alexandre Ziomkowski, coordenador do Núcleo de Pesquisa do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), os casos de sífilis têm aumentado muito e parte deste crescimento deve-se ao não uso do preservativo, ainda que este esteja amplamente disponível e acessível em vários tamanhos e tipos, para atender a diferentes necessidades. “As pessoas precisam se lembrar que com a camisinha é possível aproveitar as festividades carnavalescas sem descuidar da saúde sexual”, frisou.
Ainda de acordo com o especialista, muitas ISTs podem não apresentar sintomas. “É o caso da sífilis. A pessoa pode ter esta doença e não saber, porque ela pode aparecer e desaparecer, mas continuar latente no organismo. Por isso, além da camisinha, os testes regulares para detecção desta e de outras doenças para garantir o tratamento precoce também são importantes”, completou. A sífilis é transmitida por uma bactéria (Treponema pallidum) e, embora seja curável, preocupa muito por ser de fácil transmissão e pelo fato de que, se não for diagnosticada e tratada, pode causar grandes complicações, desde lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas até a morte.
Números – Na Bahia, entre 2015 e 2020, 42.978 casos de sífilis adquirida foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A taxa de detecção variou entre 39,4 e 85,5 casos a cada 100 mil habitantes. A variação para menos entre 2020 e 2021 tem sido atribuída à baixa notificação da doença devido à dificuldade de acesso aos serviços de saúde durante a pandemia de Covid-19, pelas restrições de circulação de pessoas e/ou reestruturação das unidades básicas para atendimento aos sintomáticos respiratórios no auge da crise sanitária. Ainda assim, o que se observa é um aumento de casos em todas as faixas etárias, principalmente na população de 20 a 29 anos, seguida por pessoas de 30 a 39 anos. Em todo o Brasil, só em 2021, foram registrados mais de 167 mil novos casos de sífilis adquirida, com taxa de detecção de 78,5 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Os sintomas da doença variam de acordo com seu estágio. Na fase primária, ocorrem feridas no pênis, vulva, vagina, colo do útero, ânus, boca ou outros locais da pele, entre 10 e 90 dias após o contágio. “A ferida não causa dor, coceira, ardência ou pus e pode ou não estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha. O fato da ferida desaparecer sozinha, independentemente de tratamento, não significa que a pessoa ficou curada, já que a doença pode permanecer latente”, destacou Alexandre Ziomkowski.
Na sífilis secundária, os sinais aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento da ferida inicial. Podem surgir manchas no corpo, febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas pelo corpo. As manchas desaparecem em algumas semanas, independentemente de tratamento, gerando a falsa impressão de cura. A sífilis terciária pode surgir entre um e 40 anos após o início da infecção e costuma apresentar lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas.
O uso adequado da camisinha em todas as relações sexuais é a única forma de prevenção contra a sífilis. O teste rápido para detecção da doença está disponível nos serviços de saúde do SUS, sendo prático e de fácil execução. “Em todos os seus estágios, a doença pode ser transmitida verticalmente durante a gestação ou parto e colocar em risco tanto a gestante quanto o bebê. O tratamento, que deve ser estendido aos parceiros sexuais, é feito através de antibióticos. Prevenir é sempre a melhor opção”, concluiu o urologista Alexandre Ziomkowski.
Cinthya Brandão