Por Carlos Gil Ferreira – oncologista.
O câncer já é um dos principais desafios de saúde e a tendência é que a situação se agrave: a Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês), entidade vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula que cerca de 18 milhões de pessoas receberam o diagnóstico da doença em 2020 e a expectativa é que, em 20 anos, esse número chegue a 28 milhões de novos casos ao ano. No Brasil, as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam mais de 700 mil novas ocorrências só este ano. Porém, junto com o aumento de casos, também crescem opções de diagnóstico e tratamento que vêm revolucionando o combate da doença. A principal – e mais recente delas – são as abordagens e drogas desenvolvidas a partir das análises genômicas.
As inovações são feitas a partir da avaliação precisa dos tumores em laboratório, tornando possível não apenas oferecer novas terapias alvo, mas também obter um entendimento molecular profundo para saber como cada tipo de câncer se comporta. Desta forma, é possível elaborar estratégias terapêuticas mais assertivas, o que tem aumentando a sobrevida e qualidade de vida de diversos pacientes.
“Alternativas de terapias personalizadas e individualizadas podem fazer com que o câncer se aproxime cada vez mais de se tornar uma doença considerada crônica, com benefícios mensuráveis à qualidade de vida de pacientes”, aponta o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas e diretor médico do Grupo Oncoclínicas. Para ele, o futuro do tratamento da doença é promissor e permitirá que mais pessoas tenham alternativas terapêuticas para muito além da quimioterapia e radioterapia.
O tema está no centro dos debates que permeiam a programação do 11º Congresso Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute, entre os dias 14 e 16 de setembro. Com 16 módulos, que acenam para o presente e futuro no combate a diferentes tipos de tumores, o evento traz importantes estudos e análises que mostram como a oncologia vem evoluindo significativamente através da utilização de técnicas de análise molecular para identificação das alterações genéticas das células cancerígenas, sejam elas hereditárias ou adquiridas. Esses avanços no conhecimento aprofundado dos mecanismos da doença se refletem não só em diagnósticos mais precisos mas também possibilitam estratégias voltadas à individualização das linhas de cuidado.
Para Rodrigo Dienstmann, Diretor do programa de Medicina de Precisão e Big Data da Oncoclínicas, exames que ajudam a decifrar o perfil molecular de tumores como de pulmão, intestino e próstata têm se mostrado importantes aliados no controle da condição. “Esse tipo de teste proporciona maior assertividade no diagnóstico da doença, o que é fundamental para uma definição precisa do tratamento”, comenta.
Neste cenário de amplos avanços científicos, o médico ressalta, ainda, a patologia digital, por unir algoritmos de inteligência artificial, big data e conhecimento médico altamente especializado para gerar análises ainda mais precisas para um diagnóstico assertivo. “A transformação digital e implementação de ferramentas de análise computacional vêm se mostrando altamente efetivas na redução do tempo de diagnóstico e indicação de melhores linhas de cuidado a serem adotadas para cada paciente”, destaca.
Genética é aliada essencial para tratamentos mais efetivos.
Nas frentes de combate ao câncer, Rodrigo Dienstmann aponta para as alternativas de tratamentos mais recentes – e celebradas – com olhar de lupa para a personalização de condutas. Através da utilização de técnicas de análise molecular para identificação das alterações genéticas das células cancerígenas, sejam elas hereditárias ou adquiridas, a oncologia de precisão contribui significativamente para que pesquisadores possam encontrar uma forma de atingir especificamente tais alterações e, assim, controlar o tumor.
“Faz parte desse arsenal de opções a terapia gênica CAR-T, que usa células do próprio paciente moduladas em laboratório para derrotar tipos especiais de tumores hematológicos, comprovando que a oncologia molecular é essencial para a otimização do cuidado ao paciente com câncer”, enfatiza o especialista.
Outros exemplos já em uso pautados pelo olhar para a genômica são a imunoterapia – tipo de tratamento biológico com o objetivo de potencializar o sistema imunológico do indivíduo para combater o câncer – e as terapias-alvo moleculares – tratamento feito com substâncias que foram desenvolvidas para atacar alterações específicas das células cancerígenas, bloqueando o crescimento do tumor e permitindo que o organismo do paciente recupere as condições para derrotá-lo. E isso, assegura o especialista, é apenas o início de uma nova Era da medicina.
“A evolução dos estudos envolvendo o genoma humano, código genético presente nas células e de forma única em cada indivíduo, fez com que nos últimos anos a análise dos genes se tornasse parte indispensável das áreas da medicina. O congresso trará não só uma visão aprofundada sobre avanços e benefícios da oncologia de precisão, como também um panorama dos aspectos econômicos e sociais para que seja possível garantir a equidade de acesso às terapias mais avançadas para toda a população”, sintetiza Carlos Gil Ferreira.
Texto: Carol Campos.