A pandemia do novo coronavírus contribuiu para desencadear inúmeras consequências na área de saúde. Especialistas estudam o risco de sequelas neurológicas após a recuperação do paciente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 93% dos países houve interrupção ou redução nos serviços essenciais de saúde mental, outro impacto do longo período de isolamento.
Os exemplos mostram o necessidade de atendimento especializado em neurologia ou em psiquiatria. O preconceito relacionado a algumas doenças mentais afasta a busca pelo tratamento necessário. Além do estigma, muitos ainda confundem as áreas de atuação profissional.
Segundo o professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e da Universidade de São Paulo (USP), João Paulo Machado de Sousa, para trabalhar tanto na neurologia quanto na psiquiatria, o profissional é formado em medicina e, em seguida, realiza a residência na área escolhida.
De acordo com Sousa, a psiquiatra atua com alterações em comportamento e nas experiências emocionais. Ele necessita de conhecimento sobre farmacologia, pois é autorizado a receitar medicamentos para o tratamento de doenças mentais.
Sobre a neurologia, o professor esclarece que a especialidade forma profissionais indicados em caso de problemas físicos relacionados ao sistema nervoso central ou periférico. Nesse caso, estão contidas as doenças localizadas no cérebro ou relacionadas à transmissão de impulsos cerebrais para outra parte do corpo.
Quando procurar um neurologista ou um psiquiatra?
Os protocolos do Ministério da Saúde estabelecem em quais situações, emergenciais ou ambulatoriais, são necessárias as atuações do neurologista e do psiquiatra. Conforme as orientações, o encaminhamento para neurologia ocorre geralmente em casos de dor de cabeça, acidente vascular cerebral, vertigem com suspeita de origem central, síncope ou perda transitória da consciência, convulsão, epilepsia, esclerose múltipla, demência, tremores e síndromes que podem estar relacionadas à Doença de Parkinson. Ou seja, casos relacionados a doenças motoras, de epilepsia ou neurodegenerativas.
O protocolo do Ministério da Saúde recomenda a atuação de um psiquiatra em emergências de riscos de suicídio; sintomas psicóticos em fase aguda e síndrome de abstinência moderada a grave de substâncias psicoativas. Também se indica a psiquiatria quando há risco de agressão contra si mesmo ou contra terceiros, sem um suporte sociofamiliar capaz de impedir a possibilidade.
O paciente é encaminhado para atendimento ambulatorial em psiquiatria em caso de transtornos depressivos, de ansiedade, por uso de substâncias, obsessivo-compulsivo (TOC), de estresse pós-traumático (TEPT) e de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). O Ministério da Saúde elenca a atuação de um psiquiatra se o paciente apresentar sintomas relacionados à bipolaridade ou à esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. O psiquiatra também é indicado a atender pacientes que se queixam de disforia de gênero, ocasionada pela discrepância entre o sexo designado no nascimento e a identidade de gênero.
Além dos casos listados, os protocolos ressaltam que outras condições também podem demandar a atuação de um neurologista ou de um psiquiatra. Portanto, cabe ao médico que realiza o primeiro atendimento encaminhar o paciente para o serviço adequado.
Tabu envolvendo a psiquiatria
Durante muitos anos, o tratamento de transtornos mentais criou um estigma relacionado ao paciente que precisa de atendimento em psiquiatria. Em entrevista em 2019 ao Jornal da USP, o presidente do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade, Wagner Gattaz, analisou que o preconceito atrapalha as pessoas a entenderem que os transtornos mentais são doenças como outras. Isso reflete na busca pelo atendimento.
Conforme dados da OMS divulgados em maio de 2020, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. O problema é mundial, já que estima-se que quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais no planeta.
Atuação multidisciplinar
Quando o paciente possui quadros combinados que envolvem problemas motores e de saúde mental, geralmente há a recomendação para que receba tratamento multidisciplinar. Um exemplo seria uma pessoa com sintomas de Parkinson ou Alzheimer que apresente sintomas de depressão ou ansiedade. Outro envolveria um paciente com transtorno mental que se queixe de dores de cabeça ou tenha dificuldades para dormir ou sofra convulsões.
Ambos os casos precisariam do apoio conjunto do psiquiatra e do neurologista. Conforme a necessidade do paciente, podem se unir à equipe psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e educadores físicos. Os diferentes profissionais atuam em conjunto para oferecer ao paciente o tratamento mais eficiente e que resulte em melhor qualidade de vida.
Reportagem: Podcast Minuto Saúde Mental | Matéria: Rafaela Rodrigues/ Expertamedia