Por Dr. Paulo Roberto Szeles – Médico
A diferença fisiológica entre homens e mulheres é tema recorrente de estudos na Medicina do Esporte. Características biomecânicas, fisiológicas e hormonais geralmente favorecem o sexo masculino tanto na melhora da performance quanto na diminuição do risco de algumas lesões, como as do Ligamento Cruzado do Anterior (LCA) do joelho.
A incidência de lesões de LCA nas mulheres pode ser até quatro vezes maior do que nos homens, com um pico no final da adolescência e em adultas jovens, dos 14 aos 19 anos. Esportes com saltos e corrida com mudança de direção, como o basquete, vôlei e handball, são as modalidades que mais apresentam casos de LCA.
O tratamento é preponderantemente cirúrgico, porém, a boa notícia é que protocolos de prevenção de lesão são eficazes na redução dos casos. Para entender melhor os os principais fatores de risco associados às lesões de LCA, o Médico do Esporte e Ortopedista da Seleção Brasileira de Basquete Feminino, destaca:
Hormônios
O ciclo menstrual impacta no corpo da mulher de diversas formas. Algumas são sentidas, como cólicas, inchaço, dores de cabeça, e alteração de humor. Outras, agem de forma silenciosa, como é o caso da ação dos hormônios nos ligamentos, promovendo um relativo “relaxamento” destas estruturas. Por esse motivo, a prevalência de lesões no LCA pode variar ao longo do ciclo menstrual. Alguns estudos evidenciam que atletas que usam anticoncepcionais hormonais podem ter menos risco de lesão;
Anatomia
Nas mulheres, o espaço central do joelho, onde fica o LCA, é menor se comparado aos homens. Isso pode estar relacionado na mobilidade do ligamento em movimentos de torção, favorecendo o impacto entre ligamento e osso. Outro fator anatômico relevante é o alinhamento dos membros inferiores, geralmente com joelhos em valgo;
Biomecânica
O fato do quadril ser mais largo e afetar o alinhamento com os joelhos, também impacta na musculatura da região. Normalmente, a mulher tem uma “fraqueza” relativa maior que o homem na musculatura do quadril, coxa e glúteos, principalmente no final da adolescência. Em movimentos de impacto (como saltos, corrida) ou mudança brusca de direção bem observadas em modalidades como basquete, futebol e vôlei, essa “insuficiência” da musculatura abdutora do quadril, pode aumentar dinamicamente o valgo do joelho, estressando os ligamentos e aumentando potencialmente o risco de lesões.
“Apesar das diferenças entre homens e mulheres, o tratamento de lesões de LCA são os mesmos para ambos. As recomendações vão desde a readaptação esportiva – evitamos o repouso completo do atleta – até a fisioterapia para reabilitação pré e pós-operatória e cirurgia para reconstruir o ligamento. O mais importante para qualquer atleta, seja profissional ou amador, é a prevenção das lesões. Manter uma rotina de treinos com supervisão de bons profissionais e acompanhamento com um Médico do Esporte minimiza as chances de lesões esportivas”, explica Dr. Paulo.
Dica do Especialista
A pandemia afetou toda nossa rotina e ainda estamos longe de retomar ao que era antes. Mesmo quem se manteve ativo com treinos em casa por um período, precisa tomar cuidado nesse retorno às atividades em quadra e excessos de carga. No caso das mulheres, que sofrem com uma fraqueza maior nessa região de quadril e coxas, é importante o fortalecimento antes de qualquer modalidade de impacto.
Sobre o autor
Dr. Paulo Roberto Szeles é Médico com Título de Especialista em Medicina Esportiva e em Ortopedia e Traumatologia. Pós Graduado em Traumatologia do Esporte e Fisiologia do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde também fez Mestrado em Medicina Esportiva com foco em lesões de CrossFit.
Atualmente é Médico da Seleção Brasileira de Basquete Feminino e de alguns atletas olímpicos de Ginástica, como Caio Souza, e coordena a Residência Médica em Medicina Esportiva da UNIFESP. Já atuou como médico em grandes eventos Esportivos, como Copa do Mundo do Brasil (2014), Jogos Olímpicos Rio 2016, Copa América de Futebol (2019) e Basquete (2009 e 2017), Campeonato Mundial de Basquete (2009 e 2010).
Matéria: Yara Simões/ Doppler Saúde Mkt