O número de alunos da modalidade de Educação Para Jovens e Adultos (EJA) aumentou 23% na última década. Há 900 mil adultos e idosos que estão matriculados em escolas no Brasil, de acordo com o Censo Escolar de 2022, sendo alfabetizados e aprendendo conceitos básicos de matemática e ciências.
Eles ainda não chegaram à faculdade, mas já encontram severas barreiras para retomar os estudos: encaram a falta de autonomia por não saberem ler e escrever, são alvo de intolerância por tentarem estudar “tardiamente” e desdobram-se para conciliar o emprego com as aulas noturnas.
Segundo os dados de 2019, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), 35 milhões de brasileiros acima de 40 anos são analfabetos, e outros 600 mil são alunos no ensino superior, segundo o Censo de Educação Superior de 2021.
Nascido em Pedrinhas (SE), o porteiro José Carlos Conceição, de 61 anos, não conhece as próprias origens – foi abandonado quando era criança e não se lembra de sua infância. Viveu na rua até os 16 anos, quando, ainda analfabeto, foi acolhido por um casal em Salvador (BA).
“Comecei a lavar carro, a lavar panela em restaurante, mas sempre tive o sonho de estudar. Porque conhecimento supera qualquer riqueza de ordem material, né? Essas pessoas me disseram que o céu era o limite. Eu acreditei”, diz.
Foi com esse estímulo (e com a animação de ter conseguido ler gibis sozinho) que, durante a pandemia, José Carlos entrou na EJA, na modalidade à distância. Terminou os estudos, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 e foi aprovado em psicologia.
“Trabalho de madrugada, saio da portaria e vou direto para a aula de manhã. Os moradores do condomínio mudaram o jeito de me olhar quando souberam que faço faculdade”, conta.
Edição: Pietra Dantas – estagiária | Supervisão: Hélio Alves/ Tribuna do Recôncavo | Fonte: G1.