Por Leonardo Torres – psicoterapeuta
Com o advento da pandemia, trabalhar e estudar em casa foi, em um primeiro momento, uma promessa de melhoria da qualidade de vida. No entanto, alguns “inimigos” surgiram com mais força. Um deles é a procrastinação.
Não é incomum clientes, colegas e amigos relatarem que estão procrastinando mais e, em seguida, acabam por se martirizarem por isso. O que leva a quadros de pânico, ansiedade, baixa autoestima e outros sintomas.
Na realidade, o grande inimigo não é procrastinar. O inimigo real é a guerra que o indivíduo inicia com a procrastinação. No momento em que o corpo e a alma pedem pelo ócio – pelo fazer nada – , o indivíduo se frustra e não vai buscar um ócio de qualidade. Sua fuga são as redes sociais, por exemplo.
Quem navega nas redes sociais não se deixa levar pelo ócio. Acaba por rolar as notícias e curtir, comentar e compartilhar conteúdos. O indivíduo tenta anestesiar-se com as redes sociais para fugir do ócio e do medo proveniente dele. Ou seja, parece que ninguém mais dedica tempo para si mesmo; na verdade, parece que cada vez mais a atenção está voltada para o aparelho eletrônico e suas conexões virtuais.
A palavra “ócio” está intrinsecamente interligada com a de origem grega “sklolé”, “escola”, em português. Escola como ambiente, para os gregos, do “fazer nada” que gera grandes criações e invenções. Ou seja, há muito já se sabe que a procrastinação de qualidade é necessária para alcançar o seu contraponto: a proatividade e a produtividade. Se um indivíduo comum passa cerca de um terço do dia nas redes sociais, sem descansar, sem procrastinar, com certeza, a produtividade e a proatividade também serão afetadas.
Vale ainda entender que o ser humano não é uma máquina que mantém sua produtividade em constância e consistência. Somos pêndulos: em um momento precisamos procrastinar para em outro momento sermos produtivos.
Procrastinar com qualidade não é consumir imagens diversas: não é estudar, ver televisão, ficar nas redes sociais. Procrastinar com qualidade é colocar a referência em si. Pode-se, por exemplo, dormir: o sono produz uma homeostase psíquica e fisiológica. Expressões criativas como desenho e escrita também são bem-vindas. Meditações também podem ser uma procrastinação de qualidade.
O fato é que cada indivíduo deve encontrar o seu método de procrastinar com qualidade, a fim de centrar-se, isto é, passar um tempo consigo mesmo, com seu corpo e alma, para conhecer-se e compreender-se.
Sobre o autor
Leonardo de Souza Torres Soares é Psicoterapeuta Junguiano e criador de conteúdo do perfil @Psiarque no Instagram. Também é Doutor em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista de São Paulo e Mestre em Comunicação pela mesma universidade.
Matéria: Erick Santos e João Fortunato/ R&F Comunicação Corporativa