Responda com sinceridade: quando o assunto é sua relação com a literatura, quantas histórias você costuma consumir anualmente? Se sua média tem sido de ao menos um livro a cada dois meses, uma notícia pode te alegrar: seu ritmo de leitura é superior ao da maioria da população nacional — que, em meio a previsões de queda no gosto pela literatura, revelou ler no máximo cinco obras por ano.
A constatação faz parte da mais nova pesquisa da Preply, plataforma que, recentemente, entrevistou internautas de Norte a Sul e acaba de divulgar: em um país onde 30% das pessoas sequer já compraram um livro, como indicado pela pesquisa Retratos da Leitura, cerca de 60% dos entrevistados nunca tiveram interesse em ler ou sentem que perderam esse hábito, tornando-se leitores piores ao longo do tempo.
Isso porque, para compreender como pessoas de todas as regiões enxergam o mundo das palavras, a especialista no ensino de idiomas pediu que centenas de brasileiros de todas as regiões compartilhassem suas experiências com os livros, dos gostos literários aos ambientes mais propícios para se dedicar a uma nova história. Durante o levantamento, os respondentes ainda puderam apontar os maiores “vilões” da leitura no Brasil, entre opções como as responsabilidades domésticas e redes sociais.
Afinal, o que (e como) leem os brasileiros?
Embora nem todos os entrevistados no estudo da Preply se reconheçam como amantes da literatura, algo que o levantamento deixa claro é como, ao menos entre os que se entendem como tal, há muito a dizer sobre a paixão pelos livros — uma relação pautada por diferentes rituais, escolhas e preferências.
Quando o assunto são as diversas modalidades de leitura, por exemplo, se enganam aqueles que apostam na popularidade de certos formatos tidos como mais “modernos”: de acordo com cerca de 60% dos entrevistados, o livro impresso permanece sendo a opção mais agradável para se dedicar a uma boa história, percentual que o coloca muito à frente de alternativas em ascensão como os e-books (11,6%) e audiolivros (6,2%).
Em meio à ampla variedade de gêneros literários, por sua vez, as opiniões tendem a ser um pouco menos unânimes, com os livros de ficção (49,2%) e autoajuda (44,6%) liderando o topo de um pódio no qual também se destacam as histórias de mistério ou suspense (32,2%), fantasia e ficção científica (26,8%) e, claro, as boas e indispensáveis histórias de amor (28,4%).
Mas e quanto às melhores ocasiões para se dedicar à leitura? O que dizem os brasileiros? Ao serem questionados sobre as situações que mais costumam exigir a companhia de um livro, 8 em cada 10 entrevistados demonstraram predileção pelos momentos tranquilos em casa, enquanto outros afirmaram ler mais durante os períodos de espera (21,8%) e viagens de férias (19%), ambos marcados por certo ócio e despreocupação.
Diante de um cenário de barreiras no acesso aos livros, baixos investimentos na educação e, em contrapartida, ascensão dos entretenimentos digitais, não é incomum que as pessoas tendam a enxergar a própria relação com os livros negativamente — impressão também reafirmada no levantamento conduzido pela Preply.
Para se ter uma ideia, depois de serem solicitados a avaliar as próprias experiências de leitura ao longo do tempo, aproximadamente 60% dos internautas compartilharam relações de distanciamento do universo das palavras, seja porque nunca tiveram interesse na literatura (16,6%) ou porque perderam o hábito de ler livros no decorrer dos anos (41,2%).
Se somados, são números maiores que a parcela que acredita estar lendo cada vez mais (28%) ou que vem mantendo o hábito ao longo do tempo (14,2%).
Os obstáculos elencados são diversos, mas parecem se dividir em dois grupos: em primeiro lugar, as distrações e hobbies alternativos, como é o caso das redes sociais (58,8%) e conteúdos audiovisuais (programas de TV, filmes e séries) (35,2%), seguidos pelas clássicas responsabilidades que geralmente interferem na disposição dos brasileiros — das demandas profissionais (48,6%) às familiares (40,%) e domésticas (33,8%).
Com tantas obrigações dentro e fora do escritório, não causa surpresa que a falta de incentivo ou motivação (15,2%) ainda apareça entre os maiores impeditivos para uma vida de leitura recorrente.
Os segredos para ler em outro idioma
Como uma plataforma especialista em idiomas, um dos interesses da Preply durante o levantamento girou em torno da capacidade de leitura em outras línguas entre os brasileiros, principalmente levando em conta que tal habilidade tem sido cada vez mais requisitada no âmbito profissional ou educacional.
Reforçando os dados mais recentes sobre o número de fluentes para além do português — segundo dados do British Council, por exemplo, apenas 5% do país se comunica em inglês —, somente 34% dos entrevistados disseram se sentir confortáveis para ler livros estrangeiros em seus idiomas originais, parcial ou totalmente.
Trata-se de uma parcela pouco volumosa quando ao lado dos 66% que ainda enfrentam dificuldades para se aventurarem pela literatura nas demais línguas, desafios em geral relacionados à limitação geral de vocabulário (62,2%), falta de contato com termos específicos (42%) e incompreensão de referências culturais de países além do Brasil (23,6%).
Para quem deseja dar o primeiro passo rumo à fluência por meio dos livros, mas não sabe por onde começar, os segredos, segundo os que leem em outros idiomas, são basicamente três: investir em dicionários bilíngues ou apps de tradução (46,7%), de forma a poupar o tempo de leitura; começar com narrativas infantis ou de fácil compreensão (45,5%) e, ainda, caprichar nas anotações (43,7%) para decorar mais naturalmente o sentido de certas palavras — dicas simples, mas que só tendem a trazer mais segurança aos interessados.
Metodologia
Para investigar os hábitos de leitura no Brasil, nas últimas semanas, 500 entrevistados de todas as regiões foram solicitados a responder a 10 questões envolvendo certos detalhes de suas relações e experiências com os livros, dos gêneros literários favoritos aos melhores ambientes para se estar na companhia de uma boa história. A organização das respostas possibilitou a criação de diferentes rankings, nos quais é possível conferir o percentual de cada alternativa apontada pelos entrevistados.
Texto: Helvio Caldeira.
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