Baiana de Santo Amaro, no Recôncavo baiano, Maria Bethânia, assim como o irmão Caetano Veloso, não escondem suas origens e, mais do que isso, costumam exaltar sua terra por meio de canções.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Bethânia, que pouco se manifesta publicamente sobre política, comentou a conversa vazada do presidente Jair Bolsonaro (PSL), na qual ele se referia aos nordestinos como “paraíba” e dizia que o pior era o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), a quem deveria vetar recursos.
“Como nordestina, me dói, não gosto que falem mal de minha terra e das minhas pessoas. Um austríaco não vai gostar se falarem que o Tirol é uma merda… O Brasil é um país. Se você o preside, preside o país inteiro. Mas eu tenho a maior honra de ser chamada de ‘paraíba’”, destacou.
Maria Bethânia criticou ainda a declaração dada por Bolsonaro ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”, atacou o presidente, gerando reações contrárias até de aliados como o governador de São Paulo, João Dória.
“Eu tive irmão exilado [Caetano Veloso], amigos meus foram embora, alguns desapareceram. É difícil ouvir isso como uma coisa simples, como se não fosse nada. Muito duro. Fico preocupada. Estou preocupada”, comentou Bethânia, cuja preocupação se estende também aos conflitos recentes como a morte de um cacique waiãpi, no Amapá — cujo assassinato foi desacreditado por Bolsonaro —, e a rebelião em penitenciária no Pará, que resultou em ao menos 58 detentos mortos. “A crueldade está muito grande. É preciso jogar água fria. Não sei como fazer isso. Vou cantando, me expressando, reagindo. As coisas têm que acontecer. É isso ou morrer”, declarou a cantora. “A vida exige coragem sempre. É preciso coragem para chegar a uma situação que traga alegria”, acrescentou.
Bahia Noticias