Por Paulo Roberto Souza – cardiologista e ecocardiografista
O infarto silencioso do miocárdio é muito mais comum do que se imagina. Pesquisas revelam que quase metade dos casos podem não apresentar os sintomas clássicos: dor intensa e prolongada no peito, com sensação de ardência ou aperto, que irradia pelo braço esquerdo até o pescoço ou mandíbula, acompanhada ou não de suor excessivo, palidez, náuseas, vômitos e aumento na frequência cardíaca. Por esta razão, a doença pode permanecer desconhecida e não tratada, o que amplia o risco de morte em uma possível nova ocorrência e complicações como a insuficiência cardíaca. Pacientes com colesterol alto, fumantes, diabéticos, hipertensos, obesos, sedentários, pessoas com histórico familiar, depressão ou quadros agudos de estresse tem maior chance de ter infarto, sendo a forma “ silenciosa” mais comum em mulheres, idosos e diabéticos. Quanto antes o diagnóstico for confirmado, mais precoce o tratamento realizado para evitar novos episódios e suas possíveis complicações.
Também conhecido como ataque cardíaco, o infarto é a morte das células de uma região do músculo do coração devido à formação de um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo de forma súbita e intensa. Sua principal causa é a aterosclerose, acúmulo de placas de gordura no interior das artérias coronárias. Na maioria dos casos, o infarto ocorre quando uma dessas placas se rompe, formando o coágulo, interrompendo o fluxo sanguíneo e diminuindo a oxigenação das células do miocárdio. As doenças cardiovasculares são líderes de mortalidade no Brasil e no mundo. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma doença no coração e cerca de 400 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o infarto agudo do miocárdio estão entre as principais causas de morte no país.
O diagnóstico de infarto silencioso costuma surpreender os pacientes que, geralmente, chegam ao consultório do cardiologista sem uma queixa muito específica. Segundo o cardiologista e ecocardiografista baiano Paulo Roberto Souza, o que muitos relatam são sintomas atípicos, como falta de ar e cansaço para realizar esforços. Outros pacientes se encontram completamente sem sintomas. Contudo, “através de exames simples, como eletrocardiograma e ecocardiograma, conseguimos identificar alterações no coração que sugerem um quadro de infarto anterior. A partir daí, iniciamos uma investigação mais detalhada em que, muitas vezes, se descobre que o paciente, de fato, teve o tipo ‘silencioso’ da doença. Quando isso ocorre, iniciamos o tratamento com brevidade, inclusive para prevenir novas ocorrências”, explicou.
O aposentado Carlos Antônio Oliveira (74) sentia-se apenas cansado de suas atividades normais quando procurou o doutor Paulo para uma avaliação. O paciente, que era hipertenso, foi submetido a uma cirurgia de revascularização do músculo do coração (miocárdio) após o diagnóstico e se recuperou bem. Atualmente, vive uma vida normal, mas não abre mão de realizar exames e praticar atividades físicas regularmente. “Faço caminhadas, frequento academia e evito excessos para evitar que aconteça de novo”, resumiu.
Tratamento – Avaliar a necessidade de desobstrução da artéria é um ponto importante no tratamento do infarto, independentemente dele ser sintomático ou “silencioso”. Para realizá-la, podem ser indicados uma angioplastia coronária (desobstrução mecânica), uma cirurgia de revascularização miocárdica, como aconteceu com o Sr. Carlos Antônio, ou a utilização de fibrinolíticos (desobstrução com medicamentos).
No primeiro caso, um cateter-balão, inserido através de uma punção arterial (no punho ou virilha) e direcionado até o local do entupimento, é inflado para abrir a artéria. Em seguida, é colocado um stent (dispositivo semelhante a uma mola), que mantém a artéria aberta para normalizar a circulação de sangue.
Já os fibrinolíticos, que agem dissolvendo o coágulo, só são indicados quando não é possível fazer a angioplastia, pois podem apresentar alguns efeitos colaterais como hemorragias. Além disso, “parte fundamental do tratamento consiste no uso de outros medicamentos para evitar a formação de novos coágulos, prevenir arritmias, controlar o colesterol e a pressão e favorecer a cicatrização da área afetada, sem esquecer de hábitos de vida saudáveis”, acrescentou Paulo Roberto Souza.
O cardiologista ressaltou, ainda, que a prevenção é sempre melhor do que qualquer tratamento. Além da prática regular de exercícios físicos, alimentação adequada e cessação do tabagismo, o controle dos fatores de risco, como diabetes, hipertensão arterial e colesterol elevado são fundamentais para evitar o entupimento das artérias e consequente infarto. “O acompanhamento regular com o cardiologista, sobretudo a partir dos 50 anos de idade, é fundamental, assim como o controle rigoroso das doenças de base, através de medicamentos e da mudança do estilo de vida”, concluiu.
Matéria: Reinaldo Oliveira