Fim de ano é tempo de muitas festas e confraternizações regadas a muita comida e álcool. Mas os exageros podem fazer com que esses felizes encontros terminem no hospital. Então se por acaso você abusou na comemoração de Natal, esperamos que tenha aprendido a lição para não estragar seu Réveillon. Se não, aí vão algumas dicas e orientações de especialistas médicos que tratam os males do sistema digestivo.
Uma doença crônica que costuma se agravar muito com os excessos cometidos nos festejos de fim de ano é a pancreatite que pode tomar sua forma aguda e evoluir de forma rápida e muito agressiva.
“Em geral, quem tem uma pancreatite crônica só se queixa de alguns desconfortos intestinais que vão se agravando com o tempo. Porém, é justamente nestas épocas de festejos de fim de ano, em que se consome uma carga de álcool e gordura muito grande e de uma só vez, que esse quadro de pancreatite crônica leve se agudiza e se torna numa pancreatite aguda”, explica o gastrocirurgião Adilon Cardoso Filho (CRM GO 9616).
Segundo o médico, os sintomas da pancreatite aguda são forte e repentina dor abdominal, perda de apetite, náuseas, vômito e febre. Adilon esclarece, no entanto, que nem todos os quadros de pancreatite aguda estão associados ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas e má alimentação.
“A forma aguda é provocada, essencialmente, pelo excesso do triglicérides no sangue; temos também o uso contínuo de algumas medicações (codeína, mesalazina, sinvastatina, furosemida, enalapril), traumas abdominais, e principal devido à pedra na vesícula, que ocorre porque o pâncreas não consegue expelir as secreções que produz, ele começa então fazer um processo de autodigestão, um quadro gravíssimo”, alerta o médico.
O gastrocirurgião afirma que, seja num quadro de uma pancreatite aguda autoimune ou um pancreatite crônica que se agudizou, as pessoas devem se atentar para o fato de que a doença traz um quadro que evolui muito rapidamente e de forma agressiva. Por isso a necessidade de levar o paciente a um serviço de emergência, em caso de fortes dores abdominais que não cessem com analgésicos.
“A pancreatite aguda ou agudizada que se não tratada rapidamente pode levar sim o paciente ao óbito rapidamente”, alerta o médico.
Embora seja uma doença de sintomas agressivos, o especialista explica que o tratamento prestado nos serviços de emergências dos hospitais têm grande efetividade na cura das crises de pancreatite aguda.
“A pancreatite, no regular, não é uma patologia de difícil diagnóstico, por isso mesmo num atendimento emergencial consegue-se tratar sua crise. O que se deve atentar é: havendo os primeiros sintomas mais intensos, a pessoa deve ir logo para o atendimento de emergência”, afirma o médico.
Refluxo
Mas além da pancreatite aguda, outro problema que pode acabar com a alegria de suas comemorações de fim de ano é o refluxo gastroesofágico ou doença do refluxo. Os excessos cometidos nestes períodos festivos agravam os sintomas de quem tem a forma crônica da doença.
“O refluxo acontece quando os conteúdos do estômago e do intestino (a bile) retornam ao esôfago, fazendo com que a mucosa esofágica seja agredida. Então quando o indivíduo come muito, e isso é bem comum nesta época de festas de fim de ano, esse conteúdo dentro do estômago estimula uma produção maior de ácido [gástrico] e outras secreções, e num dado momento isso é refluído, ou seja sobe e retorna para o esôfago”, explica o cirurgião e endoscopista bariátrico Sérgio Barrichello (CRM: 111301-SP).
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo, doutor em cirurgia clínica e professor adjunto da Escola de Medicina PUC Paraná, Flávio Ivano (CRM 10425 PR ), os episódios de refluxo costumam ser mais frequentes e intensos nesta época do ano, pois as pessoas acabam relaxando nos cuidados com a alimentação, e consumindo alimentos que agravam ainda mais os sintomas da doença.
“Todo o excesso alimentar aumenta a chance de refluxo gastroesofágico, e isso inclui alimentos mais gordurosos, frituras, condimentados, bebidas mais ácidas (como os refrigerantes). Tudo isso, mais o fato das pessoas comerem muito e tarde da noite, é contraindicado para portadores de doença do refluxo gastroesofágico”, destaca o especialista.
O médico lembra que as bebidas alcoólicas, também consumidas em larga escala nesta época do ano, são outro fator preponderante para a ocorrência do refluxo gastroesofágico.
“O álcool, além de ser uma substância altamente prejudicial à mucosa esofágica, dependendo da quantidade, pode ser bastante calórico e assim contribuir para o aumento de peso, que também piora o quadro de refluxo”, explica Flávio Ivano.
Moderação sempre
Segundo outro especialista, o cirurgião do aparelho digestivo, professor de medicina e membro Titular Especialista do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Cesar Wakoff (CRM 744220 RJ), mesmo quem não sofre da forma crônica do refluxo, pode ser acometido pelos sintomas da doença, em virtude dos excessos cometidos durante as festividades de fim de ano.
“O refluxo pode atingir mesmo indivíduos saudáveis apenas pelo excesso de comida. A dilatação do estômago e aumento na pressão do esfíncter esofágico podem promover um refluxo apenas naquele momento, causando desconforto, que podem muitas vezes simular até um infarto”, alerta o especialista.
Para Wakoff, quem já sabe que tem a doença do refluxo e quer festejar neste fim de ano, precisa, mais do que nunca, seguir a linha da moderação e da disciplina. Ele dá inclusive algumas dicas simples, e que até parecem óbvias, mas que nem sempre as pessoas seguem, e com isso acabam frustrando suas comemorações.
“Mantenha, mesmo neste período de festas, a dieta balanceada, evitando condimentos e frituras; evite fazer refeições próximo da hora de dormir, ao se alimentar à noite, espere pelo menos duas horas para depois ir se deitar; evite também as bebidas alcoólicas, as bebidas ácidas como refrigerantes e sucos diluídos com pó e o fumo”, orienta o médico”, orienta.
Outra boa recomendação dada pelo médico e que melhora os desconfortos noturnos do refluxo é elevar a cabeceira da cama colocando um calço sob os pés da cama elevando a parte superior.
Matéria: Raquel Pinho/ Comunicação Sem Fronteiras