O transtorno do espectro autista (TEA) se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem, e por uma gama estreita de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva.
O TEA começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) estima que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista. Assim, o mês de abril ganha a cor azul para a conscientização sobre o autismo.
A neuropediatra Alinne Rodrigues Belo (CRM 19322), que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica que esse é um transtorno do neurodesenvolvimento e que apesar de cada criança ser diferente da outra, os pais devem estar atentos a alguns sintomas que são semelhantes.
“As crianças com TEA apresentam dificuldades ou limitações na comunicação e na interação social, atraso na linguagem verbal e não verbal e dificuldade de socializar com crianças da mesma idade e até mesmo com familiares”, revela.
Segundo a especialista, a maioria dos sintomas do transtorno do espectro autista costuma já estar presente entre 12 e 18 meses de vida e ela destaca outros pontos a serem observados.
“Essas crianças possuem interesses restritos e repetitivos, com comportamentos estereotipados e rígidos, além de dificuldades de tolerar mudanças na rotina. É importante estar atento ainda se a criança perder alguma habilidade que já tinha adquirido, como balbuciar e apontar. Toda regressão é um sinal de alerta para transtornos do desenvolvimento neurológico”, salienta Alinne.
“Outras características são crianças que não apresentam sorriso social, não atendem chamado, não reagem a ruídos e sons do ambiente ou se tem reação exacerbada diante de um som específico. Crianças com dificuldade de manter contato visual, que olha nos olhos de maneira rápida, o olhar não é sustentado. Elas possuem mais interesse em objetos do que na face das pessoas e se interessam muito por objetos que possuem movimentos repetitivos. Crianças que vocalizam pouco, com dificuldade de tolerar o toque, com distúrbios do sono ou irritabilidade elevada”, detalha a médica sobre os sinais de alerta, ressaltando que não é preciso apresentar todos esses pontos em conjunto.
Tratamento
Ao identificar algumas dessas características, Alinne Rodrigues Belo indica que o primeiro passo é procurar um pediatra, que depois fará encaminhamento para outros especialistas de áreas como neurologia pediátrica, psiquiatria infantil, pediatria com especialização em comportamento e desenvolvimento.
“O diagnóstico do transtorno do espectro autista é desafiador, muitas vezes precisa de mais de uma avaliação, pois nem sempre a criança tem todas as características”, revela a neuropediatra.
Porém, mesmo com a suspeita do autismo, a médica ressalta que já é importante iniciar o tratamento.
“Ele é feito com uma equipe multidisciplinar, pode envolver psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas, ecoterapeutas, hidroterapia e em alguns casos terapia com psicomotricidade. Serão traçados caminhos que consistem, basicamente, em estimulação e reabilitação de sintomas”, explica ela, contando ainda que o acompanhamento é individualizado e de acordo com os tipos e os graus dos sintomas apresentados.
O autismo não tem cura, mas é reabilitável e seu tratamento é por tempo indeterminado. “Muitas vezes é para a vida toda. O objetivo é fazer com que a criança tenha autonomia, independência, melhora da socialização e desenvolvimento adequado da linguagem. Em muitos casos o tratamento é modificado com o tempo, o número de sessões pode ir variando com cada profissional envolvido”, detalha Alinne sobre o transtorno, que possui três graus, leve, moderado e grave.
“O leve é quando se torna uma pessoa adaptada, o moderado é quando tem sub respostas às terapias e o grave é aquele que mesmo com as terapias não possui boa evolução”, explica.
Origem
De acordo com a neuropediatra, a causa exata do transtorno do espectro autista ainda não foi completamente definida pela medicina.
“O que se sabe é que tem base genética e esses genes são influenciados por transtornos ambientais, os quais ainda estão em estudos. Além disso, já temos conhecimento que o acúmulo de agrotóxico nos alimentos ao longo dos últimos 30 anos, o uso excessivo de eletrônicos, o consumo de alimentos industrializados e transgênicos estão sim interferindo na expressão dos nossos genes e fazendo com que o espectro esteja cada vez mais presente”, afirma.
Alinne Belo salienta que é importante as pessoas estarem mais conscientes.
“O que a sociedade precisa entender é que, não só o autismo, mas todos os transtornos do desenvolvimento da infância são extremamente prevalentes e comuns no nosso dia a dia e estão se tornando cada vez mais frequentes. É importante que haja esclarecimento da população, das crianças, da escola. Existe muito preconceito porque as pessoas rotulam, não entendem os comportamentos”, conta a especialista.
Sobre a educação, a neuropediatra diz que é preciso acolher e saber conduzir o paciente.
“As escolas precisam estar mais preparadas para lidar com essas crianças, precisamos avançar. Muitos profissionais das áreas da saúde e educação precisam de treinamento maior. Uma coisa que sempre gosto de dizer para todas as famílias que acompanho na neuropediatria é que não existe nenhuma pessoa igual a outra, todos somos diferentes e temos nossas dificuldades específicas, algumas com mais e outras com menos. Precisamos levar para a sociedade o conceito real de empatia, tolerância e colocar isso em prática”, conclui.
Matéria: Dayse Luan/ comunicacaosemfronteiras