A mulher moderna, com suas múltiplas atribuições, enfrenta desafios significativos ao tentar conciliar os papéis de mãe, profissional, esposa, filha, amiga e tantas outras relações. Considerando os vários papéis que desempenha, as perguntas que surgem são: como dar conta de tudo? Onde ficam os cuidados com sua saúde e bem-estar?
A autocobrança é frequentemente um inimigo da qualidade de vida. Em um mundo acelerado e repleto de informações, o desejo de “abraçar o mundo” pode ser avassalador. Historicamente e culturalmente, as mulheres sempre estiveram na posição de acolher, cuidar e superar-se para mostrar seu valor. Este artigo busca refletir sobre a capacidade das mulheres de exercerem diversas funções e como elas conseguem conciliar os variados papéis no dia a dia.
“Nasceu uma mãe, nasceu uma culpa! É o clichê mais verdadeiro que existe. Por mais que eu tente buscar equilíbrio, sempre estou em falta com alguém ou alguma coisa. Seja no âmbito profissional porque não estou crescendo como deveria, seja no pessoal porque meu filho dormiu sem escovar os dentes ou porque ele passou mais tempo nas telas enquanto eu precisava terminar alguma coisa ou até mesmo para conseguir tomar um banho.
Nessa busca intensa de ser uma Mulher Maravilha que dá conta de tudo, aprendi a relaxar. Nem tudo sairá como eu gostaria, e está tudo bem! A Lelê jantar uma pizza um dia da semana não me faz ser menos mãe, assim como não responder a todos os WhatsApps e e-mails de trabalho na hora não me faz menos competente. O equilíbrio está em levarmos a vida com leveza e saber quais são as prioridades de cada dia.” – destaca Elle Ferraz, mãe, apresentadora e empreendedora.
Por maiores que sejam os avanços, persistem desafios significativos no cotidiano. Diferenças salariais relacionadas ao gênero ainda representam um grande obstáculo. A valorização desigual entre os trabalhos de homens e mulheres reflete uma divisão socialmente construída que precisa ser desconstruída.
A chegada de um segundo filho inevitavelmente transforma a dinâmica familiar, especialmente o relacionamento com o primogênito. O malabarismo para dedicar atenção ao filho mais velho é um grande desafio para equilibrar a nova rotina com um recém-nascido. A dúvida sobre estar fazendo a coisa certa e a culpa por não estar disponível para os filhos a todo momento são sentimentos frequentes entre as mães. O impasse é ainda maior quando se tenta conciliar a maternidade com atividades pessoais e profissionais.
“A chegada de um segundo filho escancara ainda mais esse malabarismo que vivemos e mostra o quanto não temos controle de absolutamente nada, por mais planejado que seja. Por mais tranquilo que seja e por mais que tenhamos uma rede de apoio, o bebê demanda muito da mãe. E a culpa materna vem com tudo.
Uma coisa que tenho feito aqui em casa é aproveitar enquanto o bebê dorme para fazer coisas com a Helena, como assistir a um filme, jogar algum jogo de tabuleiro que ela ama, e, nos dias que consigo, levá-la e buscá-la da escola. Conversamos muito em família sobre essa fase que demanda mais, mas é passageira.
Já com a vida profissional, apesar de não ter parado, o ritmo está bem mais lento. Afinal, a prioridade agora é minha família.” – destaca Elle Ferraz.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apenas 54,6% das mães com filhos pequenos estão empregadas, comparado a 89% dos homens. Além disso, as mulheres gastam pelo menos 50% mais tempo em cuidados com a casa e os filhos do que os homens. Apenas 37% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres.
A desconstrução da visão de que a mulher é apenas mãe após o parto é necessária. As mulheres precisam de liberdade para viverem sua individualidade sem julgamentos. A licença-maternidade, por exemplo, é significativamente mais longa que a licença-paternidade, o que reforça a mulher como principal cuidadora. Essa dinâmica afeta também casais e famílias homoafetivas, mostrando que a questão é socialmente construída e não natural. É essencial que os homens também participem ativamente desse processo, pois as mulheres ficam sobrecarregadas.
“Ser mãe é o meu melhor emprego! Rsrs. Amo cada minuto com meus pequenos, mas isso não quer dizer que não seja cansativo e desafiador. Apesar de hoje falarmos um pouco mais sobre os desafios da maternidade, ainda existem muitos tabus sobre o assunto. Ser mãe é a maior responsabilidade e o maior projeto de vida, afinal, estamos criando seres humanos para o mundo, e o resultado de todo esse trabalho implicará em um mundo melhor ou pior.” – finaliza Elle Ferraz.
A maternidade é desafiadora no mundo contemporâneo e exige uma dinâmica cansativa de gerenciamento do tempo na vida das mulheres. Elas enfrentam uma luta constante para conciliar carreira, família e autocuidado. Reconhecer a importância da rede de apoio e a necessidade de políticas públicas mais eficazes são passos fundamentais para melhorar a qualidade de vida das mães e promover uma sociedade mais justa e igualitária. Para enfrentar esses desafios, é necessário que todos, independentemente de gênero, colaborem e apoiem as mudanças positivas, construindo uma sociedade que valorize igualmente os esforços de todas as pessoas.
Texto: Camila Ferreira.