Na manhã desta sexta-feira, último dia da 60ª Assembleia Geral da CNBB, os membros da presidência, que foram recém-empossados, concederam entrevista coletiva à imprensa no Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida. Na ocasião, o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da CNBB, dom Jaime Spengler, saudou a todos os presentes e fez um resumo das atividades realizadas ao longo dos últimos dez dias.
O novo presidente da CNBB ressaltou que, desde o dia 19, o episcopado brasileiro se encontra em Aparecida, São Paulo, para a 60ª Assembleia Geral da Conferência. “Cada Assembleia Geral é um pentecoste, é uma experiência muito bonita de fraternidade, de comunhão entre nós; e disposição para servir da melhor forma possível a igreja que está no Brasil e ao nosso povo, a nossa gente”.
Dom Jaime salientou que todos esses dias foram marcados por temas pertinentes à vida da Igreja e também do povo. “Nós tivemos uma agenda bastante complexa, eu diria, e também as eleições para a presidência, para as comissões, delegados para o Celam e delegados para o Sínodo. Esse processo exigiu muito de nós”, disse.
O arcebispo afirmou que, como presidência, todos estão com a disposição de corresponder àquilo que a Assembleia outorgou e pede que se leve adiante. “Que Oxalá os próximos quatro anos sejam para nós um tempo de trabalho vigoroso e, certamente, os tempos que se delineiam diante de nós trazem sim uma complexidade que vai exigir de todos nós discernimento, bom senso e capacidade de colaborar para deixar as nossas comunidades, a nossa igreja e também o nosso Brasil um pouco melhor para as futuras gerações”, enfatizou.
Questionado pelos jornalistas como a Igreja pode colaborar nesse tempo de polarizações, dom Jaime concordou que o tecido social brasileiro se encontra extremamente desgastado e que é preciso que os bispos promovam um trabalho no seio da Igreja de conciliação, comunhão. “Nós temos famílias, comunidades e expressões do clero divididas, portanto é um trabalho desafiador e complexo ao mesmo tempo”.
Na ocasião, ele recordou o tema da Campanha da Fraternidade de 2024, que traz à luz a questão da fraternidade e da amizade social, e que tem como base a Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco. “Esperamos que consigamos promover a necessidade premente no seio da sociedade”, disse.
O presidente da CNBB reafirmou aos jornalistas que a carta divulgada, pelo episcopado, ao povo brasileiro parte da pessoa de Jesus Cristo e do Evangelho. E que a condição de discípulo de Jesus, do crucificado, do ressuscitado tem implicâncias na vida social e que a Igreja não pode ficar calada, independente de partido político ou de quem esteja no poder.
“Nós precisamos e devemos lutar por aquilo que fazemos e termos como referência Jesus Cristo e o Evangelho; é isso que pauta as nossas decisões, as nossas escolhas, é isso que promove vida e vida em abundância”, disse.
Dom Jaime relembrou ainda que todos devem ser “sal da terra e luz do mundo”, em vista de uma sociedade mais integrada, integradora para as futuras gerações. E completou: “Onde a vida não é cuidada, o discípulo de Jesus não pode permanecer indiferente”.
Aos jornalistas, dom Jaime argumentou que o Brasil é riquíssimo e capaz de produzir para toda a população, mas que hoje não estava conseguindo ir ao encontro da necessidade do povo. “Isso significa que na nossa estrutura política e econômica alguma coisa não está bem; e detectar o que não está indo bem envolve um trabalho de diálogo, de construção, de ética e também que leve em consideração à Doutrina Social da Igreja, grande tradição da Igreja”.
O segundo aspecto, salientado por dom Jaime, é que não existe um projeto de nação que, verdadeiramente, paute para além de quem esteja no governo decisões e escolhas. O terceiro elemento, citado por ele, é o espírito dos brasileiros, que apesar de todos os desafios, estão “dispostos a encontrar meios a fim de fazer frente a isso que talvez hoje quase que grita por justiça aos céus”.
Por fim, segundo dom Jaime, a missão da nova presidência é “dar continuidade a um trabalho que já vem sendo feito, seja numa dimensão mais interna, de promoção da sinodalidade, de comunhão, participação e missão”.
Edição: Pietra Dantas – estagiária | Supervisão: Hélio Alves/ Tribuna do Recôncavo | Fonte: CNBB.