Há alguns anos, um comercial de seguradora intitulado “completamente louco” ganhou a afeição de muita gente. As imagens mostravam um pai de primeira viagem preparando um berço, estudando sobre bebês e ao final com o filho no colo. Enquanto isso, um narrador dizia: “Só mesmo um louco para ter um filho. Ela vai perder a forma e você gastará uma fortuna em fraldas. Sem qualquer cerimônia esse sujeito vai roubar sua esposa e suas noites de sono. E ainda assim, você vai ser completamente louco por ele”. Essa paixão entre pai e filhos, repleta de um sentimento profundo e único, pode ser explicada pela ciência por meio de um hormônio chamado ocitocina.
Segundo o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu, a ocitocina tem um papel fundamental nas relações e, por isso, ficou conhecida como o hormônio do amor. “Ela é um neurotransmissor, ou seja, age como mensageiro, levando informações para diversas áreas do organismo”. Pesquisas diversas já comprovaram que “a ocitocina influencia comportamentos, é capaz de reduzir o estresse e a ansiedade e tem o poder de fortalecer vínculos a curto e longo prazos”. Ou seja, a ciência pode detalhar aquele sentimento a princípio “inexplicável” provocado pela paternidade.
Ao viver esta experiência, Fabiano sentiu no peito algo novo, que ele viria a saber depois que era a ocitocina em ação. “Quando minha primeira filha Gabriela nasceu, o médico logo a colocou em meus braços. A sensação que senti foi algo indescritível a ponto de ter que me aprofundar mais sobre esse hormônio. Todas aquelas pessoas na sala de parto desapareceram, se apagaram, me lembro até agora da sensação, nunca mais senti algo parecido. Uma mistura de euforia, aumento de oxigênio, pacificidade, felicidade com um toque de sonolência e cansaço depois. A sensação era de que poderia ler um livro naquele momento e ao fechá-lo, decorá-lo inteiro sem nenhum esforço “.
Ao estudar mais sobre o hormônio do amor, Fabiano encontrou dados interessantes: “A ocitocina é produzida no hipotálamo, na neuro-hipófise e atua no sistema límbico, região relacionada às emoções. Está na memória genética masculina, que é passada através das histonas junto ao espermatozóide até o ovócito secundário, ali, há esse compartilhamento genético de quase 50% do homem com o bebê; e essa consciência afetiva paterna e cognitiva expressiva e física, faz liberar, em homens saudáveis, uma quantidade deste hormônio que traz a uma sensação única, diferente, na vida do homem. Claro que também na mulher, mas o tema aqui é falar do homem, devido a data comemorativa.”
Além disso, o neurocientista lembra que a ocitocina é produzida instintivamente e sofre influência de outros hormônios, refletindo assim em sintomas positivos e até mesmo negativos. Na falta dele, alguns transtornos podem até acontecer, ressalta: “Ele é o hormônio do vínculo. Portanto, quando não o produz, por exemplo, há uma rejeição ao filho e poderá apresentar um quadro de depressão ou tristeza pós-parto pela falta desse hormônio”, completa.
Matéria: Raphael Lucca/ pressmf