A bolsa continua se deteriorando pelos mesmos motivos de ontem: a recepção muito negativa das medidas fiscais, aliada à questão da isenção de imposto de renda. O câmbio também está perdendo referência, com exportadores preocupados, sem saber se este é o momento certo de agir ou se a situação ainda pode piorar.
Apesar de manifestações pontuais do Banco Central e de deputados em apoio à credibilidade fiscal, boa parte do mercado interpreta que essas medidas não serão suficientes. A visão predominante é que o novo arcabouço fiscal dificilmente será cumprido nos próximos anos, mantendo a dívida pública brasileira em uma trajetória insustentável.
Embora ainda haja tempo para ajustar as contas de 2024, especialmente considerando que as novas regras só passam a valer em 2026, as medidas atuais não parecem suficientes. Por exemplo, estimativas indicam que as receitas adicionais previstas — cerca de R$ 10 bilhões — não compensam a renúncia de R$ 35 a R$ 40 bilhões com as isenções. Enquanto persistir essa percepção de resistência em apertar as contas ou realizar revisões mais robustas, os ativos locais tendem a continuar em deterioração.
Além disso, o cenário de fundamentos fracos no Brasil, como juros elevados e uma expectativa de inflação acima da meta para o próximo ano, desestimula o interesse do investidor. Isso tem penalizado tanto o câmbio quanto os índices de risco, refletindo diretamente na performance das bolsas.
Por Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.