Por Francisco Borges – mestre em Educação e Consultor de Políticas Públicas voltadas ao Ensino
Apesar de historicamente figurar entre as principais questões levantadas em períodos eleitorais, ao lado da saúde e da segurança, o tema educação tem tomado menos espaço do que deveria nas entrevistas, debates e agendas dos candidatos à Presidência. É o que avalia Francisco Borges, mestre em Educação e consultor da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao Ensino. Ele define como rasas as abordagens que o tema recebeu até este momento.
“Há um embate moral entre as duas candidaturas mais à frente nas pesquisas, enquanto os outsiders, durante o primeiro debate televisivo, por exemplo, não aprofundaram as discussões e também se deixaram levar pelos ataques, às vezes, pessoais. O tema educação, assim como outros importantes, acabou sendo escanteado”, afirma.
Francisco Borges aponta três aspectos sobre o setor educacional, seja de natureza pública ou privada, que deveriam ter mais espaço nos próximos debates entre os candidatos:
Reforma do ensino médio
Mesmo com as dificuldades relacionadas ao ensino remoto e outras novidades trazidas pela pandemia, o cronômetro continuou ligado para o prazo que o Brasil tem para implementar um novo ensino médio, resultado da reforma aprovada pelo Congresso Nacional em 2017. Por lei, a reforma deve ser concluída em 2022. A Lei nº 13.415/2017 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu uma mudança na estrutura do ensino médio, ampliando o tempo mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais e definindo uma nova organização curricular, mais flexível com conteúdos de formação técnicas e profissional em outras 1.200 horas\aulas, num total de 3 mil horas\aulas por um período de 3 anos.
Com essa implementação longe de acontecer por completo até o final deste ano, Francisco Borges vê como essencial debater os desafios que os futuros gestores terão nesta missão. “É anseio dos jovens uma escola que amplie seu leque de oportunidades e ofereça escolhas que lhes permitam trilhar diferentes caminhos de vida, a educação técnica e o ensino superior. Por isso, a ressignificação do ensino médio é estratégica para as esferas de gestão educacional tanto estadual quanto federal”, afirma.
Qualidade do ensino superior e o crescimento do EaD
O consultor da Fundação FAT faz um alerta para a discussão da necessidade do ensino superior em acompanhar os avanços do mercado. “Os negócios relacionados ao ensino superior registraram importantes movimentações e continuam no radar do mercado, carente de mão de obra qualificada. Numa análise quantitativa, a partir dos dados publicados pelo censo de 2020, é possível consolidar tendências que vinham sendo sinalizadas desde 2015”, aponta.
Francisco Borges aponta que há uma nova onda na educação superior, que é a chegada de novos grupos privados preparados com muita tecnologia e com muito apetite financeiro. Uma discussão que merece atenção neste ponto, segundo ele, é sobre o desejo dos velhos grupos estabelecidos de consolidar uma modalidade híbrida, que figura entre o presencial e a Educação a Distância (EAD), e os riscos que esse desejo pode oferecer à qualidade do ensino ofertado.
“O que de fato deveria pautar o debate é quais são as carreiras que devem ter mais presencialidade; quais podem ser por natureza mais remotas e digitais; quais recursos tecnológicos substituem os tradicionais; fortalecendo a evolução tecnológica do setor, e assim por diante”, diz.
Remuneração de professores
“É senso comum que, no Brasil, os professores representam uma das ocupações financeiramente menos valorizadas, especialmente quando a importância e os impactos destes trabalhadores são colocados em pauta. Apesar disso, e do impacto positivo que essa bandeira pode ter em termos de eleições, espantou a falta de propostas concretas durante a primeira oportunidade dos candidatos em se confrontarem. Não podemos avançar no tema educação sem considerar a melhoria de condições para todos os agentes envolvidos. E neste caso, os professores devem ser prioridade”, afirma Francisco Borges.
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