Após o anúncio do Ministério da Educação (MEC), nesta quinta-feira (10/12), permitindo que as aulas continuem remotas enquanto durar a pandemia, as escolas particulares enfrentam uma verdadeira debandada dos alunos de todo o País.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, a transferência de alunos dos colégios particulares para a rede pública cresceu mais de 10 vezes, em relação ao ano anterior. O movimento é idêntico em todo o País. O Grupo Rabbit acaba de divulgar pesquisa com mais de 1.400 escolas e 435 mil alunos, apontando queda de 30% no número de rematrículas para 2021.
“Com a perda de renda das famílias, a saída dos alunos da rede privada está ocorrendo porque as escolas particulares não estão entregando uma educação adequada”, explica Ismael Rocha, doutor em educação e diretor acadêmico do Institute of Technology and Education (Iteduc), especialista em ensino híbrido e digital.
“Sabemos que o ensino a distância necessita de didática específica, sendo que a lição de casa não está sendo feita da forma adequada pela gestão das escolas.”
Resultado: os alunos das escolas particulares estão perdendo o interesse pelas aulas e são apoiados pelos seus pais que, por sua vez, agora acompanham de perto a situação. Em resposta ao problema, as famílias buscam alternativas mais baratas ou decidem migrar de vez para a rede pública de ensino.
A pergunta que fica, para o especialista Ismael Rocha, é como as escolas particulares sobreviverão a este cenário. Para ele, a realidade seria diferente se o ensino remoto não tivesse sido negligenciado.
“Nas poucas escolas que conseguiram fazer esse ajuste para a dinâmica do virtual, os pais estão preferindo manter os filhos estudando nesses locais, pois consideram que o esforço está valendo a pena”, avalia Rocha.
Porém, a capacitação ainda acontece em caráter de exceção.
“A grande maioria dos professores apenas ligou a câmera e deu aulas expositivas, da mesma forma como faria presencialmente, o que não funciona”, afirma o especialista.
Solução
Ele explica, ainda, que embora os alunos sejam nativos digitais, a maior parte dos professores não é.
“Esses profissionais ainda desconhecem a abordagem correta para usar as tecnologias como recurso pedagógico”, afirma.
Para reverter o cenário de crise dos colégios particulares, só mesmo adequando o ensino à realidade dos alunos, diz o diretor do Iteduc.
“Os gestores de escolas particulares devem priorizar investir na capacitação dos professores, que devem estar aptos a conduzir aulas mais dinâmicas e envolventes, dentro de uma proposta contemporânea”, conta Rocha.
Segundo o especialista, a formação dos professores com foco no engajamento dos alunos será decisiva para a sobrevivência das escolas particulares nos próximos anos. As prioridades das escolas particulares também tenderão a mudar.
“A tendência é o foco se voltar para a conquista do maior engajamento dos alunos para o aprendizado, e não mais na estrutura física das instalações, por exemplo”.
Outro ponto importante levantado por Rocha é a necessidade de uma mudança de postura pelo professor, que deve assumir papel de mediador.
“Por mais que os alunos tenham familiaridade com tecnologias, é importante que o mestre faça a curadoria e a mediação dos conteúdos e abrace seu papel de tutor”, explica.
Sobre o autor
Ismael Rocha é diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education), pioneira na capacitação de professores de educação básica para o ensino on-line e híbrido. É Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e especializado em avaliações escolares. Também é mestre em Sociologia, com formação complementar nos EUA, Canadá, Inglaterra, China, Malásia, Chile e México. Vice Presidente da World Vision Brazil e Climate Leader.
Sobre o Iteduc
O Institute of Technology and Education é uma organização voltada para o ensino híbrido e pioneira em capacitar professores de educação básica para o ensino online, ressignificando a sala de aula. Segundo estudos, dominar as aplicações das ferramentas digitais é a base mais segura para otimizar a educação e, principalmente, melhorar os indicadores de aprendizagem dos alunos.
Matéria: Beatriz Marques Dias/ Bernardo Campos/ Caroline Fakhouri