O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará, nesta quinta-feira (28), a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad). Na análise da especialista da Fipecafi, Luciana Machado, os resultados de abril podem mostrar 13,70% de desocupados no país o que, em números, representa quase 15 milhões de brasileiros.
“Houve pacotes emergenciais, mas mesmo assim o aumento no desemprego será grande. É possível que o índice atinja patamares próximos ou ultrapasse a desocupação mais alta da série histórica do Brasil, que foi identificada no primeiro trimestre do ano de 2017”, explica.
Segundo Machado, mesmo diante de uma crise econômica, é possível ponderar alguns pontos positivos, entre eles, a inflação contida e os juros mais baixos, que devem ser usado em favor da própria população e das empresas.
“A inflação é reduzida devido à queda da demanda e ajuda a equilibrar a perda de recursos financeiros que boa parte dos brasileiros terão. Já a queda das taxas de juros reduz o custo médio da dívida pública e, também, pode significar crédito mais barato para as companhias. Um problema, diante disso, é que mesmo com a Taxa Selic em declínio, o crédito ainda não tem favorecido às empresas”, considera.
Juros a zero?
Analisando a possibilidade de os juros serem cortados ao máximo no Brasil, a professora da Fipecafi aponta que é preciso considerar os efeitos de quedas ainda maiores na Selic e que o Banco Central irá analisar este efeito antes de uma posição.“Para que tenhamos juros reais, equivalentes a zero, precisaríamos de uma inflação mais alta e taxa de juros menor. A inflação não deve subir, porque estamos enfrentando um cenário de retração na demanda. Ou seja, está controlada e, com isso, os juros não devem sofrer cortes substanciais neste cenário de pandemia”, alerta.
Investimentos e a alta do dólar
A renda fixa está remunerando menos o investidor e esse cenário já não é de hoje. Para a especialista, isso fez com que houvesse incentivo para que se buscasse produtos mais sofisticados e começasse a se interessar mais sobre renda variável do mercado de ações.“Com a crise da Covid-19, as empresas que estão na bolsa sofreram queda forte de suas cotações e as oscilações são altas, afinal, estamos em um período de muita incerteza e isso se reflete no mercado de capitais do mundo todo. Desvios de preço são oportunidades para os investidores comprarem na baixa e venderem na alta, após a recuperação. Mas para quem optar por entrar no mercado de renda variável agora, é preciso ter paciência para que a retomada ocorra e não investir parte do capital que precise de liquidez. Vai haver oscilações e o retorno no curto prazo pode ser negativo”, explica.
Diante do cenário de incerteza de mercado, investidores tendem a migrar para investimentos e locais mais seguros, o ato é conhecido como flight to quality. O Brasil passa por inseguranças políticas e econômicas, decorrentes da pandemia do coronavírus, esse processo gera uma forte desvalorização da moeda e, consequentemente, eleva o preço da moeda americana.
Luciana considera algumas soluções para manter os investidores.“O Banco Central agora precisa equilibrar as taxas de juros. Se os juros são reduzidos, em meio a períodos incertos, passa a valer mais a pena para o investidor estrangeiro buscar outros mercados que possuem um trade-off melhor entre risco e retorno, ou seja, investir no Brasil se torna menos atrativo e isso impulsiona a alta do dólar”, aponta.
Comércio exterior
Hoje, a China é o principal parceiro comercial da Brasil e grande parte das importações vêm do país. Para Machado, analisando o comércio exterior, a recuperação do Brasil pode ter uma vantagem diante das relações políticas e econômicas com o continente asiático.“Nós exportamos soja em grande quantidade para os chineses e o coronavírus acabou impactando o sistema de negociação. A China era o principal exportador globalmente e em meio à pandemia mundial, o país foi o primeiro a se recuperar, o que o coloca à frente dos outros na retomada econômica. É possível fazer um paralelo dessa retomada se comparada aos cenários pós-guerra, em que o país vencedor se recuperava antes e assumia o posto de liderança na economia mundial”, declara.
Sobre a Fipecafi
A Fipecafi foi fundada em 1974 por professores do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP e atua desde então como órgão de apoio institucional ao departamento. Saiba mais, acessando: http://www.fipecafi.org.
Matéria: Marcio Ribeiro, Maik Uchôa e Bruna Lemes/ NA Comunicação e Marketing