No dia 13 de agosto o Banco Central colocou em vigor a segunda fase do sistema que tem transformado o mercado financeiro brasileiro, o Open Banking. A partir desta etapa, os consumidores poderão autorizar o compartilhamento de suas informações com instituições financeiras participantes, para melhorar o fluxo de dados e ter serviços mais personalizados e menos burocráticos.
O modelo de mercado financeiro aberto, sucesso em países como Reino Unido e Singapura, por exemplo, é adotado para fomentar a competitividade entre as empresas, com objetivo de beneficiar o consumidor final. Isso porque, a partir de um ambiente mais democrático, os clientes passam a ganhar soluções mais personalizadas – o que repercute em todo o ecossistema financeiro, que ganha inovação e recursos tecnológicos.
Dividido em quatro etapas, a expectativa é a de que o modelo do Open Banking seja ampliado até chegar ao formato Open Finance, “finanças abertaas”, em português. Esse modelo promoverá ao mercado e consumidores serviços ainda mais robustos e completos, impactando desde operações cambiais, até investimentos, seguros e previdência privada.
Para entender como o Open Banking e o Open Finance vão impactar no mercado e os investimentos, conversamos com o Ailton Torres, CIO da Smartbrain.
-Como você avalia a adoção desse sistema mais aberto no mercado financeiro brasileiro? Os impactos serão positivos?
-Ailton Torres: Como toda mudança, devemos sempre acompanhar sua adoção fazendo análises com alguma profundidade à medida que este sistema vai se consolidando. Se por um lado a barreira de acesso ao mercado financeiro ficará menor, possibilitando aumentar a quantidade de “players” e com oportunidades de oferecer soluções personalizadas aos clientes e ao mercado, do outro temos o desafio de integração e colaboração entre as autoridades do segmento e instituições que nem sempre se encontram no mesmo estágio de maturidade tecnológica para cumprir as premissas desse sistema.
Dito isto, acredito que os impactos serão positivos para os consumidores que terão mais liberdade de escolha e também para as empresas que poderão conhecer melhor os perfis e necessidades específicas destes consumidores.
-Com a quarta fase, o programa se estenderá a serviços como investimentos. Qual o potencial do Open Finance para os investimentos?
-Ailton Torres: De maneira mais ampla, há enorme potencial para a criação de novos modelos de negócios, por exemplo, atualmente contamos com diversas plataformas de investimentos que permitem aos investidores obterem informações sobre vários tipos de ativos e como aplicar neles.
Existe uma tendência muito forte de que a partir do acesso aos dados dos clientes seja possível focar na prestação de serviços mais especializados e de melhor qualidade, nem que para isto uma instituição se alie a outra para alcançar este grau de personalização.
Quais os ganhos para os investidores em ter um mercado mais democrático, aberto e personalizado em dados?
-Ailton Torres: É possível responder por meio da minha própria experiência. Antes de atuar no mercado financeiro, não tinha tanto conhecimento sobre as possibilidades de investimentos e ficava restrito às opções oferecidas pelos bancos onde meu dinheiro estava aplicado. Como os meus dados não estavam abertos para outras instituições, era difícil compartilhar o meu histórico financeiro e ter opções melhores de investimentos em função do meu perfil e disponibilidade financeira.
Para este novo cenário deixo um alerta, cabe aos investidores se prepararem para conseguir usar suas informações financeiras e tomar decisões que sejam melhores para si mesmo.
Em relação às gestoras/investidoras, como isso vai impactar no fornecimento de produtos e serviços?
-Ailton Torres: De muitas maneiras, principalmente no acesso mais facilitado aos dados do cliente. Isso porque, será possível reduzir o esforço na coleta e estruturação destas informações para a criação de produtos e serviços mais personalizados.
Matéria: Felipe Gueller/ vcrpbrasil