Após uma quinta-feira de feriado no Brasil e um forte tombo nos mercados internacionais, o dólar opera em alta nesta sexta-feira, chegando a bater R$ 5,11. Um dos motivos para esse aumento são os impactos da pandemia nas bolsas mundiais que, na quinta-feira, tiveram sua maior queda desde março.
Com influência dos rumores de uma nova onda de contágio por coronavírus, bolsas internacionais caindo e países emergentes apresentando forte desvalorização, os analistas se encontram receosos após estados do oeste americano mostrarem crescimento no número de infectados por covid-19. No cenário interno, a bolsa de valores de São Paulo ainda não sentiu o impacto devido ao feriado de Corpus Christi.
Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus relata que após o discurso de Powell, onde ele se mostrou preocupado com a segunda onda da covid-19, os investidores encontram-se preocupados.
“No discurso ele deixou bem claro que não adianta usar as ferramentas que tem para conter a recessão ou para se estabilizar a economia americana, se não resolver o problema do coronavírus. Então, ele se mostrou preocupado com uma segunda e isso acabou preocupando muito os mercados, até porque dados apontam que os casos de covid-19 estão subindo novamente nos Estados Unidos depois da reabertura da economia americana”.
Laatus informa sobre a tendência do mercado americano e como isso traz positivismo.
“Ontem o secretário do Tesouro do Governo Americano veio a público dizer que os EUA não vão voltar a fechar as economias mesmo com a segunda onda e estão preparando um novo pacote de giro. Isso animou muito o mercado. Mas o que acontece é que o mercado aqui abriu precificando o dia ontem, ou seja, depois da abertura a gente está vendo o mercado começando a se ajustar ao cenário de hoje. E agora o dólar está mais estável, a bolsa tentando se recuperar, justamente refletindo o cenário de hoje. Logo, o cenário de ontem fez pesar bastante a bolsa e puxou bastante o dólar, botou ele acima de R$ 5. Ou seja, o cenário de hoje está positivo justamente por expectativas positivas de novos estímulos americanos”, explica.
O Economista-Chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, explica que a queda se deve ao medo da nova onda do covid-19, mas que ainda há otimismo devido ao suporte dos Bancos Centrais e Governos aos mercados financeiros e acionários.
“Os mercados tiveram uma queda súbita, que ocorreu após a divulgação das projeções sobre o crescimento global, pela OCDE, da entrevista do presidente do BC americano, e do aumento dos receios de uma segunda onda da pandemia. Esse cenário externo não afetou o Brasil, por conta do feriado de Corpus Christi, mas obrigou a uma correção na abertura da bolsa brasileira, mesmo com alta dos mercados externos. A abertura, de pouco mais de 3%, do pregão de hoje foi suavizada pela melhora das bolsas na Europa e EUA, que continuam a surfar no otimismo advindo da certeza de que os bancos centrais e governos continuarão a dar suporte aos mercados financeiros e acionários”.
Daniela Casabona, Sócia-Diretora da FB Wealth explica o cenário econômico externo e sua agitação. “Quinta-feira foi um dia bastante turbulento para os mercados globais, o risco de uma possível segunda onda nos EUA e a fala mais cautelosa de Powell trouxe uma aversão a risco muito forte para a bolsa americana e os mercados da Europa”.
Sobre o cenário interno, Casabona esclarece que o dia sem pregão, devido ao feriado trouxe receio.
“Por aqui o fato de ser feriado trouxe um forte temor de como a bolsa abriria hoje, a expectativa era de uma forte queda acompanhando as baixas dos mercado de ontem, mas com as correções positivas de hoje de manhã principalmente das bolsas americanas, o Ibovespa conseguiu conter um pânico maior, então de certa forma o feriado favoreceu nosso mercado. O dólar ainda vai ter fortes oscilações, principalmente em situações de riscos onde os mercados emergentes acabam sofrendo mais”.
Fabrizio Gueratto, Financista do Canal 1Bilhão Educação Financeira, explica sobre a desconfiança do mercado na recuperação econômica.
“A expectativa é de que hoje poderia ter até um circuit breaker, mesmo não se confirmando, demonstra que não existe confiança do mercado de que a crise está passando e a economia global está se estabilizando. O que vemos é o excesso de liquidez injetada pelos governos do mundo todo combinada com uma baixa taxa de juros global. Aqui no Brasil, por exemplo, mesmo a bolsa chegando perto dos 100 mil pontos, não existe confiança de que a tragédia está superada e não haverá um segundo ato. Vale lembrar que em todas as crises anteriores teve uma queda ainda maior depois da primeira”, finaliza.
Matéria: Camila Camargo/ Gueratto Press