Pouco mais de dois meses após a mudança na política da Petrobras, os preços dos combustíveis no mercado externo descolaram dos valores praticados pela estatal e passaram a testar a nova estratégia da Petrobras.
Até maio, a Petrobras adotava a política de paridade de importação (PPI), que equipara os valores praticados nas refinarias brasileiras aos de importação. Ou seja, o valor do combustível quando chega aos portos do Brasil. Isso inclui custos com frete e seguros, por exemplo.
A Petrobras adotou a política por 6 anos, mas em maio decidiu adotar uma nova estratégia com preços abaixo do PPI.
No primeiro mês após a mudança na estratégia, os valores praticados pela Petrobras não estiveram tão distantes da importação, mantendo-se cerca de 5% abaixo da paridade.
Mas, nas últimas semanas, o valor da gasolina vendida pela estatal está pelo menos 10% abaixo do preço praticado pelos importadores.
Já de acordo com dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), na sexta-feira, dia 28, a gasolina estava 24% abaixo do preço praticado pelos importadores, o equivalente a cerca de R$ 0,77 por litro. O óleo diesel estava 21% mais baixo do preço praticado no mercado externo, ou R$ 0,78 por litro.
A última redução no preço da gasolina foi anunciada pela Petrobras em 30 de junho, quando o combustível passou a custar em média R$ 2,52 por litro nas refinarias da estatal. Nesse período, o preço do petróleo subiu e o dólar caiu. Embora os dois fatores afetem o preço de importação diretamente, eles não justificariam o grau de diferença entre o preço praticado pela Petrobras e a importação.
Segundo o sócio da Leggio Consultoria, Marcus D’Elia, a diferença no preço da gasolina pode ser motivada pela valorização do combustível nos Estados Unidos –de onde vem a maior parte da gasolina importada pelo Brasil.
Por causa do aumento na demanda local, nos Estados Unidos, o valor da gasolina aumentou e o combustível ficou mais caro para os importadores. Consequentemente, isso elevou a diferença com os valores praticados pela Petrobras.
Para o presidente da Abicom, Sergio Araujo, “o que está acontecendo é que está existindo uma valorização das commodities no mercado internacional e a Petrobras não está acompanhando”.
Segundo D’Elia, a diferença nos preços representa um teste para a nova política da Petrobras. É o momento de observar se a estatal vai aumentar o preço para manter os combustíveis no patamar de cerca de 5% abaixo do PPI, como vinha fazendo. “Temos que esperar um pouco para ver se esse valor de 10% ainda vai se manter com a Petrobras. Aí sim vamos ver como está a política de preços da Petrobras, se reagir e subir um pouquinho o preço, vai voltar para aquele patamar de 5% que temos acompanhado na Petrobras”, afirmou D’Elia.
A Petrobras segue como a maior fornecedora de combustíveis do Brasil, com custo de produção local. Portanto, a diferença não deve afetar as contas da estatal, mas afeta a atividade de importação.
Como cerca de 12% da gasolina e 25% do diesel consumidos no Brasil são importados, a Petrobras não pode praticar preços muito abaixo do mercado internacional, sob o risco de inviabilizar a importação e prejudicar o abastecimento nacional.
Araujo afirma que a diferença nos preços está tornando a atividade de importação menos atrativa. “A nossa expectativa é de que já no mês de julho e agosto o volume importado pelos importadores vá ser bem menor do que os que vinham acontecendo e isso então potencializa o risco de desabastecimento”, declarou.
O presidente da Abicom afirmou que as distribuidoras têm demonstrado preocupação em relação ao abastecimento na segunda metade de agosto.
“Na primeira quinzena, elas consomem o volume fornecido pelas refinarias da Petrobras e, na segunda quinzena, quando elas dependem mais de volume importado, elas já estão demonstrando preocupação com a disponibilidade no mercado. Mas, efetivamente, ainda não temos registro de desabastecimento”, declarou.
A Petrobras negou que haja risco de desabastecimento no mercado nacional. “Não se observa risco de desabastecimento. A demanda nacional vem sendo atendida tanto pela Petrobras, quanto pelos demais produtores e importadores que atuam no mercado brasileiro”, afirmou a estatal em nota.
A Petrobras disse ainda que aumentou em 7,4% a produção de gasolina em suas refinarias no segundo trimestre, em comparação com o período de janeiro a março.
Em 16 de maio, a Petrobras anunciou o fim da paridade de preços dos combustíveis derivados, como gasolina e diesel, com o mercado internacional. Pela regra que vigorava antes, desde 2016, o preço desses produtos no mercado interno acompanhava as oscilações internacionais no preço do petróleo e do dólar.
No cálculo anterior, chamado de Preço de Paridade de Importação (PPI), a Petrobras considerava o valor do petróleo no mercado global, o valor do dólar e custos logísticos como o fretamento de navios, as taxas portuárias e o uso dos dutos internos para transporte.
Já na nova política de preços, a estatal passou a considerar o intervalo entre duas referências de mercado: o maior valor que um comprador pode pagar antes de querer procurar outro fornecedor; e o menor valor que a Petrobras pode praticar na venda mantendo o lucro.
O fim da paridade internacional ajudou a Petrobras e o governo, controlador da estatal, a conter o aumento no preço da gasolina aos consumidores por conta do repasse das elevações de tributos.