Por Lívia Salomé – médica especialista em Medicina do Estilo de Vida
A praticidade do mundo contemporâneo levou as pessoas a adotarem hábitos cômodos, mas nem tão saudáveis. Para quê caminhar alguns quarteirões se é possível pegar um taxi? Para quê subir alguns andares de escada se existe o elevador? Pois é desta forma que os costumes atuais e a ausência total de exercícios físicos estão levando os indivíduos ao extremo sedentarismo, o que vem aumentando o risco do desenvolvimento de doenças crônicas, como o diabetes.
“O diabetes é uma enfermidade na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Já a insulina é um hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue; nosso corpo precisa desse hormônio para utilizar a glicose, que obtemos por meio dos alimentos, como fonte de energia”, explica Dra. Lívia Salomé.
Quando a pessoa tem diabetes, o organismo não fabrica insulina e não consegue utilizar a glicose adequadamente. O nível de glicose no sangue fica alto – a famosa hiperglicemia – e, se esse quadro permanece por longos períodos, pode haver danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos.
Conforme a Dra. esclarece, existem dois tipos principais de diabetes: o tipo 1, em que há ausência de produção de insulina pelo pâncreas (ele pode ocorrer em todas as idades), e o tipo 2, que responde por 95% dos casos da doença e acomete principalmente adultos com mais de 40 anos.
“Sua incidência vem crescendo em todo mundo por causa de diversos fatores, entre eles, o envelhecimento populacional e, principalmente, o estilo de vida atual, com sedentarismo marcante e alimentação inadequada”, diz a médica.
Segundo ela, este cenário está presente sobretudo nos países ocidentais, como Brasil e Estados Unidos, onde estatísticas mostram que a obesidade não para de crescer e tem se apresentado cada vez mais cedo, já na infância.
Dados da International Diabetes Federation (IDF) dão conta de que existem 463 milhões de adultos com diabetes em todo o mundo, o que significa uma prevalência global de 9,3%, sendo que mais da metade (50,1%) dos adultos ainda não estão diagnosticados.
“As evidências sugerem que o diabetes tipo 2 pode ser prevenido com diagnóstico precoce e acesso aos cuidados adequados. Isso evitaria ou retardaria complicações em pessoas que vivem com a doença”, reflete a especialista em estilo de vida.
Estudos mostram que as atividades físicas são capazes de reduzir o risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2 em até 60%. “O bom condicionamento físico melhora a ação da insulina no organismo, reduz o risco de morte por doença cardiovascular, ajuda no controle do peso e do colesterol, diminui os sintomas depressivos e aumenta a qualidade de vida. Todos esses benefícios são proporcionais à intensidade do exercício ou à capacidade aeróbica do indivíduo”, elucida Dra. Lívia, lembrando que o sedentarismo, por sua vez, é um dos principais fatores de risco para doenças do coração, assim como para o desenvolvimento da obesidade e do diabetes.
Juntamente com os exames periódicos, a prática de exercícios regulares prolonga a expectativa de vida. “Não precisa ser muito: 20 minutos de caminhada diária são suficientes”, ensina ela. Já para as pessoas acima dos 60 anos de idade, é importante também conciliar exercícios de fortalecimento muscular, já que a perda de massa muscular é um problema sério nesta fase de vida.
Segundo a IDF, o diabetes está entre as dez principais causas de morte, sendo que quase metade delas ocorre em pessoas com menos de 60 anos. A previsão é que o número total de pessoas portadoras da doença aumente para 578 milhões em 2030 e para 700 milhões em 2045.
“Se levarmos em consideração que o diabetes é uma enfermidade que podemos evitar ou postergar, os números são realmente assustadores. Infelizmente, o combate ao sedentarismo é hoje um problema de saúde pública no Brasil”, conclui Dra. Lívia.
Sobre a autora
Dra. Lívia Salomé é graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem especialização em Clínica Médica e certificação em Medicina do Estilo de Vida pelo American College of Lifestyle Medicine. Atualmente, é vice-presidente da Regional Minas Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV).
Matéria: Yara Simões/ Doppler Saúde Mkt