O Dia Mundial do Cérebro, celebrado em 22 de julho, tem como objetivo falar sobre as doenças que atingem o principal órgão do sistema nervoso central. Mesmo com tantos mistérios que ainda envolvem o cérebro, é impossível não perceber quantas doenças podem atingi-lo e prejudicá-lo de diversas formas, desde as mais raras, como as neurodegenerativas, até as mais comuns, como é o caso do Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O AVC é a segunda causa de morte do mundo e de acordo com a World Stroke Organization, todo ano há cerca de 13 milhões de novos casos de AVC globalmente. No Brasil, o cenário não muda muito: de acordo com o Ministério da Saúde, a doença também é a segunda causa de morte no país, com mais de 400 mil casos por ano e 100 mil óbitos, sendo que a cada 5 minutos, ocorre uma morte por AVC. Mas o que acontece dentro da cabeça de uma pessoa que sofre um AVC, popularmente chamado de derrame?
Antes de nos aprofundarmos nesse assunto, é preciso entender a diferença entre os dois tipos mais comuns de AVC: o isquêmico e o hemorrágico.
“Cerca de 87% dos AVCs são classificados como isquêmico, ou seja, eles ocorrem quando um vaso que fornece sangue ao cérebro está obstruído. O hemorrágico, que representa cerca de 13% dos casos de AVC, é causado quando há uma ruptura de um vaso por aneurisma ou hipertensão arterial e consequentemente sangramento no cérebro”, explica a médica neurologista Jullyanna Shinosaki.
AVC Isquêmico
Esse tipo de AVC ocorre quando um vaso sanguíneo dentro do cérebro fica estreito ou bloqueado, causando redução grave no fluxo sanguíneo. Esse bloqueio pode ser resultado de depósitos de gordura em um vaso cerebral ou por coágulos sanguíneos que viajaram pela corrente sanguínea e acabaram presos em um vaso mais fino do cérebro.
Quando isso ocorre, o fluxo de sangue para o cérebro é reduzido drasticamente, levando à morte de células cerebrais de uma determinada região cerebral.2,5,6
AVC hemorrágico
Já esse tipo de AVC atinge o cérebro de uma forma um pouco diferente. Ao invés de obstruir um vaso sanguíneo, ele fica enfraquecido e se rompe, causando um sangramento que se acumula e comprime o tecido cerebral.
Esse enfraquecimento do vaso sanguíneo pode ser resultado de um aneurisma, de uma malformação arteriovenosa ou de hipertensão arterial não controlada. Uma causa menos comum é a angiopatia amilóide cerebral.
Dependendo da parte do cérebro atingida, o paciente começará a demonstrar sinais externos e visíveis súbitos, como:
– Fraqueza ou formigamento (mais comumente em um lado do corpo)
– Dificuldade para falar ou compreender
– Boca torta
– Alteração na visão em um ou nos dois olhos
– Dificuldade de equilíbrio e/ou coordenação dos membros
– Dor de cabeça súbita, intensa e sem causa aparente (na maioria das vezes, sinal de AVC hemorrágico, e não isquêmico)
“Durante um AVC, cerca de 1,9 milhões de neurônios morrem por minuto, e o principal tratamento disponível no SUS pode ser feito em até 4,5h a partir do início dos sintomas, o que demonstra a necessidade de agir rápido para que os danos à saúde do paciente sejam reduzidos”, acrescenta Dra. Jullyanna.
Além dos óbitos causados pelo AVC, cerca de 50% dos sobreviventes passam a ter sequelas, que levam à dependência parcial ou total, e até 30% desenvolvem algum tipo de demência nos meses seguintes. A reabilitação de um paciente atingido por um AVC pode ser feita nos Centros Especializados em Reabilitação. Os tratamentos vão variar de acordo com as sequelas de cada paciente, mas entre os tratamentos mais comuns durante o pós – AVC, há fisioterapias, sessões com fonoaudiólogos, terapia ocupacional, aplicação de toxina botulínica A para o tratamento da espasticidade, entre outros. A reabilitação é parte fundamental para recuperar a autonomia dos pacientes e aumentar sua qualidade de vida.
Como se prevenir
Muitos fatores de risco contribuem para o aparecimento de um AVC. Alguns não podem ser modificados, como a idade, raça, constituição genética e o sexo do paciente, entretanto, outros fatores (a maioria) são externos e dependem exclusivamente dos hábitos de cada pessoa.
Para prevenir o AVC, você deve:
– Parar de fumar
– Não abusar do álcool
– Manter uma alimentação saudável e equilibrada
– Evitar a obesidade
– Praticar exercícios regularmente
– Manter a pressão arterial sob controle
– Manter a glicose sob controle
– Manter o colesterol sob controle
– Fazer acompanhamento médico para prevenção (arritmias que levam ao AVC podem ser diagnosticadas em consultas de rotina, p.ex)
Sobre a autora:
A médica neurologista Jullyanna Shinosaki é coordenadora da Linha de Cuidados em AVC e da Unidade de AVC do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Medicina de Uberlândia, em Minas Gerais.
Formação médica de Jullyanna:
– Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
– Residência Médica em Neurologia (UNIFESP)
– Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia
– Estágio em avaliação e tratamento da dor no Grupo de dor da FMUSP
– Mestrado em Ciências da Saúde (UFU)
– Pós-graduação em Neurologia Vascular (Hospital Moinhos de Vento)
– Preceptoria da residência médica de Neurologia (UFU)
– Coordenação da Linha de Cuidados em AVC e da Unidade de AVC (UFU)
– Responsável pelo Ambulatório de Bloqueio neuromuscular com toxina botulínica da UFU
Matéria: Karina Klinger e Nayrim Pinheiro/ IPSEN
Referências:
- http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5638:10-principais-causas-de-morte-no-mundo&Itemid=0
- http://saude.gov.br/saude-de-a-z/acidente-vascular-cerebral-avc#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20AVC%3F,interna%C3%A7%C3%B5es%20em%20todo%20o%20mundo.
- http://www.stroke.org/en/about-stroke/types-of-stroke/ischemic-stroke-clots
- http://www.stroke.org/en/about-stroke/types-of-stroke/hemorrhagic-strokes-bleeds
- http://watchlearnlive.heart.org/index.php?moduleSelect=iscstr
- http://www.ineuro.com.br/para-os-pacientes/acidente-vascular-cerebral-avc/
- http://www.stroke.org/en/about-stroke/types-of-stroke/hemorrhagic-strokes-bleeds
- http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/stroke/symptoms-causes/syc-20350113
Jul/2020 – DYS-BR-000516