Por Emily Almeida | Justiça Global
O Estado Brasileiro pouco avançou no cumprimento da sentença dois anos depois de ser condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos (OEA) pelas 64 mortes e inúmeras violações em uma fábrica clandestina de fogos de artifício em 1998. O crime ocorreu no município de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano. A maioria das vítimas eram mulheres e crianças negras.
O ano era 1998. A França derrotou o Brasil na final da Copa por 3 x 0. A empresa Google era fundada e, naquele dia 11 de dezembro, uma sexta-feira, a Nasa lançava uma sonda para Marte e o Brasil via sua pior derrota: Uma fábrica de fogos de artifício explodiu numa pequena cidade a 200km de Salvador, provocando a morte de 64 pessoas e deixando toda uma comunidade com uma ferida que ainda está aberta, 24 anos depois.
O dia que nunca terminou dá nome ao Movimento Onze de Dezembro, que reúne sobreviventes e familiares em busca de memória e justiça. A data de 15 de julho de 2020, quando o Brasil foi condenado perante o tribunal da Organização dos Estados Americanos (OEA) poderia começar a cauterizar essa aflição. Mas dois anos depois, os atingidos ainda não viram a justiça efetivamente sair do papel. O Movimento realiza um conjunto de atividades neste fim de semana (10 e 11 de dezembro), para homenagear a memória das vítimas e apontar os problemas às autoridades das esferas federal, estadual e municipal.
No sábado, o Movimento apresenta uma retrospectiva da luta empreendida até aqui, no evento no Salão da Creche-Escola 11 de Dezembro. Na sequência, a proposta é colocar em diálogo as diversas autoridades que atuam ou deveriam atuar na implementação da sentença e, assim, identificar os obstáculos. Já no domingo, após um passeio pelo memorial instalado na escola, os familiares farão um ato simbólico com partilha das emoções dos familiares diante da memória daquele dia. “Em 2020, soltamos balões brancos com os nomes das vítimas celebrando uma justiça que sairia do papel. Mas desta vez, os balões serão pretos, simbolizando o luto pelo não cumprimento efetivo dela”, conta Rosa Rocha, membro do Movimento Onze de Dezembro. (mais…)