Quarenta restaurantes fecharam as portas no Centro de São Paulo no último ano por causa do aumento da violência na região, segundo levantamento do Sindicato de Restaurantes, Bares e Similares. O levantamento considera o período entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023.

O aumento da insegurança provocou a queda do número de clientes e reduziu a sobrevida dos estabelecimentos.

Na semana passada, uma farmácia e um mercado foram saqueados por dezenas de pessoas na região da Cracolândia.

Em 2022, a prefeitura e o governo do estado realizaram diversas ações para tentar combater o tráfico de drogas na região. As medidas, entretanto, não impediram a venda e o consumo no local, e fizeram com que os usuários se espalhassem pelo Centro.

Donos de hotéis do bairro chegaram a enviar pedidos de ajuda à Secretaria do Turismo por causa dos prejuízos acumulados. No ano passado, mais de 100 hotéis registraram queda nas reservas. A área é procurada principalmente por dois tipos de turistas: os que vão para as compras na Rua 25 de Março e no Brás e os que participam de eventos corporativos.

De acordo com a Associação da Indústria de Hotéis, por medo, as pessoas estão preferindo se hospedar em áreas mais distantes.

O tradicional colégio Liceu Coração de Jesus, na região central de São Paulo, ameaçou encerrar as atividades no ano passado, mas foi mantido após a prefeitura firmar parceria para pagar a mensalidade de 500 alunos da rede pública e evitar o fechamento.

Fundada há 137 anos, em um edifício já tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo), a instituição ligada à igreja católica chegou a ter mais de 3 mil alunos, mas passou a sofrer com o problema de insegurança causado por sua proximidade com a região da Cracolândia, um dos fatores que levou à diminuição do número de estudantes.

Novos locais com concentração de pessoas em situação de rua usando drogas surgiram após a dispersão de dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, no Centro de São Paulo, segundo pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) em 2022.

Os pesquisadores identificaram que a maior parte desses pontos está na região central da capital. Eles reúnem de 20 a 200 usuários em cada local. Na ocasião, o estudo apontou que a tática usada pela prefeitura para a dispersão dos dependentes químicos não era a mais adequada para resolver o problema da Cracolândia.

A prefeitura defende que as ações no centro provocaram um aumento no atendimento aos dependentes químicos, e que desde 2017 é possível verificar uma redução do número de pessoas na Cracolândia. Entretanto, uma investigação do Ministério Público que apontou ilegalidade no processo afirmou que a grande maioria dos internados não tinha histórico de dependência química.

A Cracolândia ficou localizada por muitos anos na Rua Helvétia. Ações policiais no local, porém, fizeram os usuários migrarem para a Praça Princesa Isabel diversas vezes. Em 2017, depois de uma operação das forças de segurança, os usuários foram retirados do local e acabaram se espalhando pelo Centro.

Atualmente, eles estão mais concentrados no cruzamento da Rua Conselheiro Nébias com a Rua dos Gusmões.

A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública. As operações são criticadas por movimentos sociais. Ativistas acusam as forças de segurança de agirem com violência contra usuários de drogas, espalhando eles pela cidade.

Edição: Pietra Dantas – estagiária | Supervisão: Hélio Alves/ Tribuna do Recôncavo | Fonte: G1.